sexta-feira, 1 de julho de 2011

Uma cura (parte 2)


Depois de alguns meses, Davi pensa em todos os momentos que passou com Ana, porem de outro ponto de vista. As conversas no carro com as músicas, aquilo não passava de uma certa afinidade, não tinha nenhuma mensagem subliminar e nem algo parecido envolvido naquilo.convenhamos que hoje em dia o seu filme preferido também pode ser o de uma outra pessoa não o torna um grande elo. Certamente nada, e nem ninguém estava conspirando a favor dos dois. E daí se ela lembrou dele e o presenteou ; se faz isso com amigos, com familiares, com conhecidos e com pessoas em geral. Ana não tem quatro braços, duas bocas e nem vinte cérebros, ela é apenas uma pessoa normal e com bom gosto, beleza mediana e um charme mais que comum. Todo mundo pode sumir da vida do outro, basta querer ou ter bons motivos. Não foi nada que Davi falou ou fez, apenas a vida, que por muitas vezes ingrata vai lá e separa as pessoas. Não dessa forma, mas coisas parecidas já aconteceram com ele. Ana não foi a primeira e nem a última. Davi começa a ver que se um pedaço dele ficou com ela, ele ainda tem muitos outros para deixar com outras pessoas, talvez o corpo inteiro. A única coisa que se tenta salvar de qualquer tipo de relacionamento é a cabeça, e os pés também, procurando sempre manter no chão. Um dia qualquer Davi leu um texto de Carpinejar, que dizia que o fim é lindo!Certamente. No final as coisas sempre ficam mais claras, tudo antes que foi consumido pela paixão reaparece de outra forma, mais clara e prudente. As vezes e quase sempre, as palavras são apenas palavras, as músicas apenas tocadas, e as pessoas apenas de passagem. Ainda não está no momento do pôster voltar para a parede, e nem daquela bendita blusa ser usada, mas pensar em Ana já não dói como antes. Agora ele pensa em voltar a ser bonito, em sair para conhecer pessoas novas, e fazer coisas produtivas. Decidiu não só trocar a marca do cigarro, mas também parar de fumar, controlar seus comentários ácidos, e continuar sempre dando preferência aos amigos e as suas festas memoráveis. A ferida já está quase que curada, e ele não se importa mais com as cutucadas de Ana, passou a ignorar. Agora nada vai mudar, nada vai andar pra trás. Percebeu também que os cheiros de fritura e de alho saem facilmente com um bom banho quente, e que existe sempre alguém aí no mundo para achar graça de suas piadas (quase sempre sem graça), dos seus sorrisos, e de sua voz desafinada. O grande problema de toda essa história foi criar uma projeção perfeita de Ana, e eu nem preciso falar que não existe nada perfeito, porque isso é bem intrínseco. A realidade é o que nos resta.