quarta-feira, 21 de julho de 2010

romance tuberculoso.


Toda vez que Paula via João, ela morria um pouquinho. Ela se sentia invadida e paralisada por tanta paixão, desejo e remorso, e sem saber como cessar sentimentos tão intensos, às vezes, ela sentia calafrios. Sem conseguir lidar com a presença dele nos lugares, ela bebia vários copos de vodca pura e fumava três cigarros seguidos, quando cumprimentá-lo era inevitável. E morria mais um tanto, nas vezes em que ele logo após cumprimentá-la, puxava conversa enquanto mexia no cabelo dela. Paula sentia uma vontade absurda de sair correndo, pegar um táxi e sumir do mesmo mundo que ele. Ela só queria não ter que fingir que gostava de encontrá-lo nos lugares e que as coisas fluíam naturalmente, sem hipocrisia e desconforto. Na verdade, os flashbacks eram a tormenta de Paula. Doía lembrar-se do cheiro de jasmim que o quarto dele tinha e dos lençóis amarelos quentinhos que estavam mais para ímãs de tão atraentes e da preguiça que ela sentia de levantar-se dali. Doía lembrar-se das cócegas que ele tinha mania de fazer nela, quando eles iam a praia observar o pôr-do-sol. Doía não conseguir admitir a falta que ele faz. Doía não conseguir externar para ele a falta que o mesmo faz e da saudade que ela sente das cócegas, do lençol amarelo e do cheiro de jasmim. Doía a sensação de morte dosada. Doía também a cabeça, quando Paula acordava de ressaca após encontrá-lo. Doía em Paula ter que se contentar com o que restou: o gosto de passado na boca e João como assombração.

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