quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

sobre imensidão, tame impala e gato preto

recordo três coisas daquele sábado: era começo de outono, você usava blusa vermelha e bermuda e eu senti um friozinho na barriga que há tempos não sentia. do dia seguinte, lembro das lágrimas escorrendo pela sua face e o quanto que eu quis sentir aquela dor por você.

de lá pra cá, tenho feito um esforço sobre-humano para guardar direitinho na memória as situações, frases e toques que realmente aconteceram e não como eu queria que tivessem acontecido. sabe aquilo que a gente faz quando gosta de alguém de tentar deturpar a frase que a pessoa disse como nos convém? sabe as fantasias malucas que a gente cria na mente? pronto.

naquele domingo na sua casa, antes da gente começar a sessão de filmes de terror, de eu pisar na pata do seu gato sem querer e da gente ficar observando quem tinha a franja maior, você colocou o disco de uma das nossas bandas preferidas. mas eu precisei cruzar o oceano atlântico e mais de sete horas de tédio dentro de um avião para prestar atenção em uma frase dessa banda que define você para mim. "I was doing fine without you 'til I saw your face, now I can't erase", sabe? é isso.

eu gosto da forma como a gente enxerga o mundo juntos. eu gosto de parecer uma metralhadora de otimismo do seu lado, apesar de também ter minhas frustrações, inseguranças, instabilidades de humor. eu quero ser leveza. eu quero ser soma. então, por favor, fica aqui mais um pouco. pelo menos até o fim do verão. até o fim do carnaval, sei lá. até eu enjoar dos seus olhos verdes-heineken e você enjoar das minhas ironias.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

um dia eu aprendo

você e suas frases que me dilaceram, me sacodem, me fazem criar expectativas. quem diria que a esta altura da vida uma mensagem de três letrinhas ou simplesmente seu nome aparecendo no meu celular iam salvar o meu dia. de repente, a minha vida está sem graça, sem cor... ou vai que é a causa e efeito que sua voz e sua presença resultam em mim.


apareci porque queria um abraço e um afago seu. apareci porque estou cansada de olhar para os lados e não achar ninguém interessante. apareci porque sinto seu perfume pelo ar quando acordo, na hora do almoço, quando tiro a maquiagem às quatro da manhã depois de passar a madrugada bebendo com minhas amigas em alguma esquina vagabunda da cidade esperando você me mandar uma mensagem para ir ao seu encontro. é, apareci porque você não me chamou. 

apareci porque queria falar o que está engasgado na minha garganta. mas eu estava sem voz. engoli seco. me sabotei. como sempre. faço cara de poucos amigos, como minhas unhas, ignoro sua presença porque não sei lidar com ela. sim, até hoje não sei lidar com você e com essa química, causa, efeito. queria esquecer você um pouco e não lembrar do seu nome em cada frase ou música romântica que ecoa nos meus ouvidos. um dia eu aprendo a viver o que quero viver. um dia eu aprendo a lidar com você, com esse sentimento, comigo, com minha falta de coragem, com "queria te ver". nem que seja no caixão. um dia eu aprendo, márcio.

bjs, sua julia.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

quero adoçar teu coração


dia desses eu estava pensando nas coisas que quero fazer contigo. na verdade, não sei que conjugação do verbo usar. pretérito imperfeito? presente? de repente o pretérito perfeito composto é o mais certo. 

como eu estava dizendo, eu estava criando fantasias com a tua pessoa entre um gole e outro de café. passo alguns, ops, vários minutos do meu dia imaginando a quantidade de momentos, sensações, experiências que quero dividir contigo. 

há algumas horas, me peguei lendo caio fernando abreu e tinha uma frase que caiu como uma luva: "eu estava só começando a entrar num estado de amor por você. mas não me permiti, não te permiti, não nos permiti". e, oh, não é verdade? caio conseguiu traduzir exatamente tudo que acontece dentro de mim que teus olhos não conseguem ver. nem eu consigo. só sei sentir. teve algo que a gente deixou para depois. e esse depois, finalmente, se tornou agora. 
anos se passaram e, olha só, estamos aqui outra vez. deve ter algum motivo. alguma razão. já perdi muito tempo não me permitindo nesta vida. por isso, te faço uma proposta: vamos resolver o que precisamos? já entrei no barco e vou permanecer aqui esperando ele flutuar. se ele afundar, bem, aí te escrevo outro texto.

vou me permitir, vou te permitir, vou nos permitir, pois quero adoçar teu coração.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

(des)estabilidade


e aí que vários anos podem se passar sem a gente se dar conta dos pedacinhos interiores que precisam ser colados. podemos mudar de país, nos envolvermos com outras pessoas, parar de ter contato. e aí que começamos a ter responsabilidades, cabelos brancos e carteira assinada, mas tem algo que não muda nem com o relógio biológico correndo: sentimento. pelo contrário, tem sentimento que ganha vida e sai rasgando a nossa pele quando menos esperamos. 

e aí que a gente tem uma interrogação no estômago e aposta nossas fichas para ela se transformar em exclamação. e aí que no meio do caminho ela vira vírgula, continuação. e o que se tem a fazer é deixá-la indefinida guardada numa gaveta bem escondida até ela se tornar parênteses ou ponto final.

e aí que, como boa geminiana, não sei se quero que nossa história vire parênteses ou ponto final. quando penso na tua mão fria pegando na minha, quero reticências. quando penso na tua barba encostando no meu pescoço, quero parênteses. quando penso em tu sendo estúpido comigo, quero ponto final. mas é só recordar os dias que a gente dividiu o teu sofá e o quanto foi bom que tiro a ideia de parênteses, reticências, vírgulas, ponto final e a porra toda da cabeça. 

confesso que demorei a admitir, mas toda essa confusão mental nada mais é que falta de confiança. minha. e vulnerabilidade. sou assim mesmo: tento parecer uma rocha, mas por dentro tenho uma cachoeira seguindo o fluxo. e tu que me deixa assim. errada. mais tímida do que já sou. desconfortável. me deixa doída. às vezes me deixa muito doída, na verdade. 

mas aí eu penso naquele sábado que te vi tentando tocar bob dylan para mim com os óculos sujos de dedos e a taquicardia surge. (re)lembro da gente num certo show ouvindo uma das minhas músicas preferidas ao vivo e o quão foi bonito tu sorrindo pra mim e me arrepio. recordo da sexta-feira que tu apareceu de surpresa, pegou no meu cabelo e disse: "saudade". sei lá. algo embola lá no fundo. algo ganha vida. algo me desestabiliza. que nem te disse certo dia: tu me desestabiliza. quando te vejo, quando sinto tua mão encostada na minha, quando a gente brinda, quando teu nome salta na tela do meu celular, quando alguém cita teu nome. tu me desestabiliza.