sexta-feira, 28 de maio de 2010

amanhã tem sol.


Final de tarde de uma quarta-feira qualquer. Eu e um amigo estávamos saindo da faculdade, quando um senhorzinho baixinho que trajava camisa social marrom e tinha a barba branca o cutucou, apontou pro céu e disse: “Olhem o céu! Nossas vidas são tão apressadas que a gente nem se lembra de olhar e admirar o céu, não é? Olhem que cor mais linda!”. Eu e meu amigo sorrimos maravilhados com a observação do senhorzinho: sim, o céu estava lindo e, de fato, a gente nem se lembra de admirá-lo.

Já em casa, fiquei horas divagando sobre tamanha beleza que havia compartilhado até que surgiu a sensação de que o tal homem despejou água fria na minha cabeça. As duas últimas semanas foram tão exaustivas, pois todos os dias eu engoli raiva e frustração e estou até agora sem conseguir digerir. Sentimentos negativos acumulados me consomem e dói tanto, interiormente, que sinto um câncer brotando. O senhorzinho de barba branca surgiu naquele momento pra me fazer parar de olhar unicamente pro meu umbigo e notar o meu redor, o mundo, as árvores, os pássaros, o céu cor-de-rosa. Observar, digerir, continuar.

Provavelmente, fosse isto que eu precisava: alguém que me sacudisse e mostrasse que apesar de todos os sentimentos contraditórios e confusos que venho sentindo, preciso olhar pro céu e ter a certeza de que alguma coisa bonita me aguarda.

sábado, 22 de maio de 2010

where two and two always makes up five.


Uma das poucas certezas que tenho na minha vida de solteira é: preciso ter duas ou três noites estranhas para ter uma incrível.
Quando digo “noite estranha” me refiro a acontecimentos inesperados que causam desconforto ou constrangimentos: brigas entre amigas, lugar cheio de gente suada que dança e se esfrega em você, limpar vômito alheio, pessoas que falam o que não devem e tentam forçar situações e por aí vai... Aquela noite que enquanto você volta pra casa jogada no taxi friorento pensa: “Que madrugada bizarra. Se eu tivesse dormido teria me poupado de certas coisas.” Contudo, as noites estranhas não diferem muito das incríveis no dia seguinte. Porque a realidade, meu amigo, faz questão de ser cruel.

Mesmo que você se divirta, ria até chorar, beba todas as cervejas do bar, conheça pessoas interessantes; no outro dia você vai acordar com os olhos borrados de rímel e sozinha. Inevitavelmente, ninguém vai ligar pra saber se a ressaca te visitou, se o enjôo bateu ou se você está com vontade e disposição de sair para comer o temaki número 16 do cardápio. Ou seja, a noite só foi incrível no momento em que estava acontecendo porque no dia seguinte você acordou com o rímel borrado e com a solidão como companhia.

A segunda-feira chega juntamente com as responsabilidades que tem que ser cumpridas, você relembra as noites incríveis do final de semana para dar fôlego e encarar os próximos cinco dias de bom humor. Sobrevive-se a mais uma noite estranha no final de semana seguinte, saboreia-se uma noite incrível no próximo e assim a vida noturna segue: oscilando entre noites estranhas e incríveis, mas com a certeza de que no dia seguinte vai ser inevitável acordar com a sensação de que precisa de mais.

terça-feira, 18 de maio de 2010

letargia.


Cansaço que gera impaciência que gera má vontade que gera desinteresse que gera irritação que gera grosseria que gera abuso emocional que gera vontade de gritar que gera vontade de sumir que gera desespero que gera ansiedade que gera inércia que gera insônia que gera nervosismo que gera vontade que o mundo exploda: meu estado atual.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Le Moulin.


Porque negar aquilo que se sente?
Pra que magoar com palavras vazias?
Pra que mentir repentinamente se todos sabem que não é verdade?
Mentir pra si mesmo é um grande passo para um mundo em que apenas você vive. Amar dói, ficar só dói, gostar de alguém que não gosta de você dói, alguém gostar de você e você não corresponder também dói. Na verdade tudo dói, depende apenas do ponto de vista. Tudo depende de um ponto de vista. E a saudade é sempre dolorosa, constante, pesada e demora.



http://www.youtube.com/watch?v=Hm0g5trWV9c

terça-feira, 11 de maio de 2010

para aquela que tem dois enês no nome


Há três anos, escrevi para ela que a mesma não pode ser caracterizada por palavras, pensamentos e sim, pela ausência deles, pois ela é feita da mesma matéria que são feitos os devaneios, os delírios, as loucuras. Hoje, ratifico tudo que foi escrito e acrescento que poucas amizades não se deterioram. Algumas pessoas conseguem deixar marcas irremovíveis tão profundas que se agitam, de uma maneira tão frenética, que me pego sorrindo por saber que ela é uma certeza minha. Eu poderia descrever momentos, viagens, internas, tristezas, dúvidas, almoços na quarta-feira, noites de bebedeira, arrependimentos compartilhados. Eu poderia descrever o que fizemos ao subir no palco do maior festival de rock da cidade; certo show em novembro que até hoje rende comentários, mas só a gente sabe o que, realmente, aconteceu ou a noite que ela me salvou em um pub. Todas as descrições seriam insuficientes perto do que ela me ensinou e vai ensinar.

Daqui a um mês, a aniversariante de amanhã vai me abandonar por seis meses, pois vai trocar o calor e caos de Recife pela maior cidade daquele país da bandeira branca e vermelha que tem uma folha no centro. O que me consola é a certeza de que vai ser uma experiência incrível e dará mais felicidade à alma dela.

Pra ela, aquela que tem dois enês no nome: quero desejar desde já muita luz, lucidez e pequenas doses de loucura escorrendo nas veias. A energia solar - prefiro chamar assim porque é tão forte, radiante e nunca se acaba - que você transmite pra quem está próximo, vai ser disseminada, não me restam dúvidas. Voe. Ás vezes em vez de vôo vem à queda, mas não se preocupe quanto a isso, se acontecer vou estar aqui pra tirar você do chão.
Parafraseando Caio Fernando Abreu: “Eu só queria que você soubesse do muito amor e ternura que eu tinha — e tenho — pra você.”