segunda-feira, 26 de abril de 2010

in-felicidade & tristeza

happiness is a warm gun...

Certa vez me disseram: “Felicidade é utopia. Ninguém é feliz. Eles estão felizes.” Até que ponto a afirmação é verdadeira?
É improvável alguém conseguir ficar feliz durante sete dias? As revoltas, mágoas, decepções, azar, notícias ruins que se manifestarem no meio do caminho serão apenas obstáculos insuficientes para a pontinha de infelicidade surgir?
Será a raiva, um sentimento tão sólido e poderoso que faz do ser humano vingativo, inquieto, impaciente, triste, infeliz?


fe.li.ci.da.de
1. qualidade ou estado de feliz; ventura, contentamento.
2. sucesso; êxito.


O que me faz feliz são momentos.
O que me dá imensa paz e me faz sorrir interiormente é observar o pôr-do-sol seja do meu quarto, da varanda do meu apartamento ou do oitavo andar da faculdade ao som de Marvin Gaye ou qualquer trilha sonora que me comova e agite meu cérebro. Há tantos momentos supérfluos que podem render aquele pensamento de estou-tão-feliz-que-poderia-morrer-agora. Você pode sentir tamanha sensação de benção no momento em que saboreia sua torta preferida de morango, qualquer outro doce delicioso ou apenas em estar na companhia de quem gostaria exatamente onde gostaria.


Cazuza afirmou: “ás vezes, fico triste, mas não consigo me sentir infeliz”. Sinto o mesmo. Não consigo me olhar no espelho e me chamar de infeliz. Sou grata por tudo que tenho e já tive. Tenho alguns amigos leais e prestativos, minha família é unida, estudo na universidade mais conceituada do meu curso do Nordeste, sou saudável, tenho minha caneca de oncinha preenchida com café religiosamente ás seis horas da noite, meus discos trazem suspiros e me socam com a realidade.
Reclamo do calor, trânsito, das pessoas, comidas, barulho de obra, professores carrascos, fracassos amorosos, mercado de trabalho, mas juntos não são suficientes para me sentir infeliz.
Tristeza e infelicidade são bem diferentes e talvez a pessoa que me disse que ninguém é feliz e sim, está feliz não saiba diferenciá-los.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

(des)complicar

 
 


Algumas pessoas são realmente boas em complicar situações que são simples, mas o que é, genuinamente, simples? Passei as últimas horas na tentativa e esperança de encontrar algo não tão complexo, mas que na maioria das vezes é dito como complicado. Atravessar a rua, por exemplo. Aposto que você está pensando: “o que tem de complicado em atravessar a rua?”. Para mim, executar essa ação não é das coisas mais fáceis da minha rotina. Ir da rua da faculdade até a rua da xerox é exigido de mim muita concentração. Desastrada como sou, olho pros lados umas três vezes, procuro se tem bicicletas ou motos na rua, tento imaginar se o carro vai entrar na rua e se o motorista esqueceu de dar sinal (agora você está pensando: “que paranoica”, pois bem, já quase fui atropelada devido ao esquecimento do motorista). Já meu amigo que não tem pudor em cruzar uma avenida com carros movimentos e faixa de pedestre não existe no seu vocabulário, acha engraçado meu medo, ri da minha cara e afirma que tal atitude é de quem é adepta a arte de complicar. Engraçado é, de fato, ele esquecer que em algum momento de “bravura” pode acontecer algo mais grave como um atropelamento. Em contrapartida, ele é adepto a arte de complicar relacionamentos. Até aqueles que não foram consolidados e estão na primeira etapa: cativar. É muito cômodo ficar preso em um casulo esperando as coisas acontecerem. É muito fácil ser alguém difícil e medroso que se esquiva de arriscar, mas reclama que é rejeitado.


Um dos meus rituais diários para aqueles dias reflexivos e introspectivos é procurar na minha estante um dos melhores presentes que já ganhei: o livro com a coletânea dos melhores poemas do Paulo Leminski. O livro que tem a capa amarela, roxa, verde e laranja já me mostrou muitas respostas que estavam óbvias, mas que por ceticismo ou porque passaram despercebidas não enxerguei antes. O ritual consiste em pedir uma resposta mentalmente, abrir em uma página aleatória e tentar entender em qual contexto a poesia exposta se encaixa. E lá estava:


simples
como um sim

é simples
mente
a coisa
mais simples
que ex
iste
assim
ples
mente
de mim
me dispos
des
(aus)
ente

Pra que complicar? Descomplica!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Pedaço extraido de mim.



E nos momentos de aflição, de angustia total é que me lembro de ti. É que me lembro de como era bom ter o teu ombro pra chorar, de como era bom ter os teus carinhos, teus consolos, ou até teu silêncio, mas ter você ali comigo. Tenho saudade de dormir abraçadinha contigo, de te fazer café da manha, de dar um beijinho de bom dia. Meu coração chega fica pequenininho quando penso no que aconteceu com a gente, no que tu fez com o meu amor por ti. Agora vivo apenas nas lembranças, me matando em saudades, em noites não dormidas, em busca de encontrar aquilo que tinha em você e outra pessoa. Queria você aqui, agora, me abraçando, me chamando dos nossos apelidos carinhosos e bobos, de escutar tuas juras de amor, do teu cheiro e gosto. Mas tudo na vida passa, e eu vou esperar essas memórias tuas tão fortes serem expelidas de mim.

Autofagia.

Sou só sorrisos e alegrias, mas ninguém melhor que eu sabe das vontades presas que tenho. Sou um choro, uma vontade, uma pessoa, mas principalmente memórias presas. Às vezes tenho vontade de te encostar no canto da parede e dizer: Porra, olha que merda que você fez das nossas vidas, eu te amaria pra sempre, eu me entreguei totalmente a você e olha o que recebi! Seu filho da puta, traidor de merda, mentiroso, dissimulado, meu amor. Que saudade de escutar um meu amor saindo dessa tua boquinha rosadinha e pequena, que cabe exatamente na minha, que vontade de sair arrancando dentro de mim o orgulho e as memórias e dizer pra você voltar. As coisas não são fáceis assim, e nem seria melhor se assim fossem. Toda dor que passamos nos servem de alguma coisa, e quem sabe essa dor que já me doeu muitas outras vezes não passa também. Vou tentar em outras bocas e corpos encontrar aquilo que tinha em você, aquilo que a gente tinha de tão especial. Fico tentando buscar uma resposta pra a pergunta que não sai da minha cabeça: como o conjunto de palavras, atitudes podem acabar uma coisa tão forte que se chama amor? Juro que com toda a minha experiência em relacionamentos eu só imagino uma outra palavra pra responder a pergunta. Amor próprio. Quando uma pessoa diz que te ama e acaba fazendo certas coisas isso fere o teu orgulho, teu amor próprio. E tem pessoas (assim como eu) que não conseguem conviver com o “orgulho ferido”. Quando alguém diz que você é única ele tem a responsabilidade de te mostrar e te fazer sentir como tal. Você só pode falar e prometer aquilo que sabe que pode cumprir. Pra que falar uma coisa e agir de uma forma diferente? Pra magoar o outro? Pra se firmar como “eu que mando aqui, e está tudo no meu controle”? Nada disso adianta, quem fere depois será ferido com o sentimento de perda, com o ciúme fútil e vazio corroendo todo o seu ser, até acabar sozinho amargo e sem perspectivas. Prefiro assim, ficar aqui, sentada vendo a vida passar e me agarrando nas oportunidades de ser feliz novamente, curtir o momento. Prefiro viver a minha história de que a mercê de outra pessoa, prefiro procurar em outros corpos aquele abraço apertado embalado de sentimentos que você tinha, prefiro o outro, o novo de que você. Espero a cada dia que passa em minha existência extrair você de mim como quem arranca uma unha encravada que não te serve mais de nada, apenas para sentir a dor e te incomodar, te expulsar do meu corpo assim como quem quer curar uma doença, do meu pensamento, deixando assim, um lugar limpo e vazio pra outra pessoa, ou para mim. E afirmo que estou conseguindo.

Esconde-esconde.


Fazemos de conta não notar que existe um elo mais forte, alguma coisa que nos atrai. Deve ser a forma que me olhas, ou quando a tua mão acaricia minhas bochechas, ou até mesmo a tua mania de repetir algumas palavras. Fingimos nunca ter nada de mais importante ou profundo para dizer um ao outro. Deve ser o medo de deixar as coisas mais definidas, de expor os sentimentos, assim tornando-se mais transparente e legível um ao outro. Tenho tanto medo quanto você de me mostrar e não agradar, sempre temos esse medo. Mas o que vejo em ti até agora me agrada e muito. A gente solta as coisas de uma forma impessoal, por olhares ou mensagens, por sorrisos congelados, aquela cara de quem acabou de ver a melhor coisa do mundo e quer guardar pra si. Entregamos-nos pequenos (grandes) detalhes, e ficamos ali, um sabendo do que o outro está pensando, um sabendo que não pode mais esconder essa tal coisa. Mas nos enganamos tão bem, e fingimos não perceber nada, e assim levamos os dias, com mais mensagens, mais olhares e beijos, até quem sabe, a gente pare de fingir que nada demais acontece e resolva o que está mais que claro. O pré destinado.

sábado, 17 de abril de 2010

abril febril

Quando o mês de Abril chega tenho uma certeza já que todo ano é a mesma coisa: as pessoas vão enlouquecer. Todas elas surtam durante o maldito mês que parece não acabar. Por quê?


Talvez seja porque a ficha caiu que o ano começou há quatro meses e ninguém fez nada que tenha se orgulhado. Talvez você tenha analisado o calendário e percebido que o carnaval não faz tanto tempo que aconteceu, mas o próximo ainda vai demorar bastante já que ainda será preciso atravessar Agosto. Talvez o que enlouqueça alguns sejam as provas da faculdade que chegam, uma atrás da outra e o estudante se vê perdido de tanto assunto pra estudar e desesperado com medo de não cumprir os prazos de entrega dos trabalhos. Talvez Abril seja o mês em que o chefe comunica que mais um atraso é igual à demissão. Talvez seja porque alguns param para rever sentimentos, amizades, atitudes e se tornam impacientes, pois esperam que os quebra-cabeças se encaixem ou tudo volte ao lugar rapidamente.
Enfim, abril é o mês que ninguém cura as febres e sim o da impaciência, preguiça, ansiedade, mau humor, falta de vontade, explosão das febres. Mês de respirar fundo todos os dias, ouvir Nina Simone para acalmar os nervos e repetir pra si que o outro dia será menos enlouquecedor e sim, há de ser.


“There will be no sorrow, let it be...”

domingo, 11 de abril de 2010

monólogo

From: Melina
To: Bruno
Subject: leia
Date: Mon, 5 Apr 2010 22:42

Bruno,
Deu vontade de escrever um e-mail só pra lembrar que você continua sendo o que sempre foi pra mim.
Beijo, M.

From: Melina

To: Bruno
Subject: leia2
Date: Mon, 5 Apr 2010 23:15

Bruno,
Na verdade eu tenho mais coisas pra te falar. Uma delas é que me arrependo de não ter te falado aquelas três palavrinhas, mas infelizmente quando notei que te amava foi tarde demais, você já tinha ido. E foi justamente pelo fato de ter ido que notei que te amava. Então, fique sabendo desde já que eu te amo. Beijos, Mel.

From: Melina

To: Bruno
Subject: sorry
Date: Tue, 6 Apr 2010 09:32

Bruno,
Desculpa por ter te escrito aquelas bobagens ontem. Não era exatamente aquilo que eu queria dizer. Na verdade, não te amo não. Veja bem, estava sozinha em casa no final da segunda-feira conturbada com uma garrafa de vinho aberta ao lado do teclado, deu vontade de te escrever um email e acabei exagerando. Eu gosto de você, mas amar não amo não.

Vamos almoçar algum dia?
Beijo, Mel.

From: Melina

To: Bruno
Subject: cade voce?
Date: Tue, 6 Apr 2010 14:56

Bruno,
Por que você não responde meus e-mails e nem retorna minhas ligações? Fiz algo errado? Por favor, me responda, pois preciso saber. Não gosto desse silêncio.
Beijos, Mel.

From: Melina

To: Bruno
Subject: esquece
Date: Tue, 6 Apr 2010 19:02

Bruno,
Pode esquecer tudo. Não precisa me ligar nem responder meus e-mails. Se você não faz questão, eu também não faço! Por favor, não me ligue nunca mais. É muito difícil ter que aceitar seu silêncio como se fosse a coisa mais normal do mundo. Não é. Você sabe que não é e faz de propósito. Se você quer me deixar louca fique sabendo que não vai conseguir, ok? Vou seguir minha vida e encontrar homens melhores que você. Beijo.

From: Melina

To: Bruno
Subject: …
Date: Wed, 7 Apr 2010 10:32

Bruno,
Quero te agradecer por ter me feito perder a hora do trabalho, chegar uma hora atrasada e tomar bronca do chefe por sua causa só porque fiquei sozinha até quatro horas da manhã naquele bar aqui perto de casa, entornando cachaça pura e pensando em você, em mim, em nós. Muito obrigada por estar grudado em mim como uma dor de cabeça. Some, por favor. Mel.

From: Melina

To: Bruno
Subject: abra
Date: Wed, 7 Apr 2010 17:48

Bruno,
Meu vizinho está tocando Tangerine. Quando finalmente consigo parar de pensar em você, você reaparece em um solo de guitarra. Você sabe que essa é uma das minhas músicas preferidas do Led Zeppelin e a única que sei tocar na guitarra e veja só: você conseguiu transformá-la em uma musica dolorosa, que me dói ouvir. E sabe do que lembrei? De quando você me ensinou a tocá-la na guitarra. Lembrei de como você era atencioso e paciente por me explicar passo a passo. Escrevi certo: era atencioso, já que nem responder meus emails você faz. Nesse exato momento, o vizinho está tocando a maldita música mais uma vez. Não mereço ouvir isso, vou sair de casa, dar uma volta na praia, respirar e beber uma água de coco.

From: Melina

To: Bruno
Subject: idiota
Date: Thu, 8 Apr 2010 07:35

Bruno,
Troquei a praia por um bar e acordei com uma dor de cabeça dos infernos. Fique sabendo que a culpa é sua mais uma vez. Você tem sido o motivo das minhas ressacas, dores de cabeça, mau humor, a porra toda. Enxergo seu silêncio de outra forma, sabia? Você não merece que eu beba, chore, sofra por você, pois você é muito mesquinho, egoísta, bipolar. Meu corpo está cansado de sentir a mesma dor que meu coração. Melina.

From: Melina

To: Bruno
Subject: último
Date: Thu, 8 Apr 2010 23:12

Bruno,
Escrevo só pra afirmar que não quero você mais na minha vida. Apaguei do meu celular o seu número. Não preciso das suas ligações nunca mais, ok? Você pode conviver com isso? Se a resposta for não, comece a aprender porque chegou a minha vez de ser feliz de verdade. Seja feliz também.
Beijos, Melina.