sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Para 2011 (parte 2) :


Esse vai ser o ano que vou abrir meu armário, tirar toda a poeira, e deixar o sol entrar. Deixá-lo aquecer tanto, ao ponto de todo o cheiro de mofo e guardado passa a não mais existir. Quero sentir mais, permitir mais e sofrer menos. Hoje sim, vou contar os segundo pra 2010 passar, e passar logo sem deixar mais feridas. Esperança, é o que vou ter.

domingo, 26 de dezembro de 2010

sobre perda que não se supera.

Três meses e meus olhos ainda lacrimejam quando falo de você e do quão incrível você era. Eu gostava muito de chegar à sua casa e encontrar você na cadeira de balanço com massageador para pés assistindo televisão. Quando você assistia futebol sempre tinha um copo de uísque ao lado e muito queijo e amendoim.  Se fosse jogo do Vasco, eu ainda ganhava bombons de caramelo no final da partida. Eu nunca mais comi aqueles bombons... Confesso que achava engraçado ouvir você chamar alguém de “cidadão”, pois das pessoas que eu conheço você era o único que usava tal expressão. Lembro bem das brincadeiras com sagüis, da paixão por Frank Sinatra e cerveja, das histórias no Rio de Janeiro, dos almoços, dos jogos de baralho e comer canjica até sentir enjôo, dos passeios de barco e do dia que acabou a gasolina da lancha e ficamos parados no mar por quase uma hora, e meu Deus, é tanta coisa que me lembra você que deve ser por isso que não tem um dia que eu não passe menos de meia hora te dando vida no pensamento: você era uma das minhas três pessoas preferidas no mundo. E quando você ganha vida na minha cabeça, eu sinto uma avalanche de sentimentos bons, mas quando me deparo com a realidade o que sinto é uma mistura de amor com dor. Ou dor de amor. E muita saudade. Três meses e a ferida não cicatrizou. Três meses e ainda acredito que vou te ver a qualquer momento e falar “boa noite, vovô”.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

para 2011:



Reclamar menos, desapegar mais, confiar menos, se motivar mais, se justificar menos, exigir mais, suportar menos, digerir mais..

domingo, 12 de dezembro de 2010

I was dreaming of the past, and my heart was beating fast

E logo eu, que quis gritar tanto o teu nome por aí. Quase como um camaleão, ia me adequando a cada coisa nova que descobria sobre você. Sabe, deveria ser proibido pra qualquer tipo de casal aquele nosso encontro, aquela nossa noite. Você não me disse quase nada, eu muito menos. Mas algo ficou implícito pra mim. Às vezes quando vou dormir lembro daquela noite, daqueles beijos que eu adoraria receber sempre, das tuas mãos e do teu sorriso (que eu acho tão lindo, e concordo que não deveria mostrar pra qualquer pessoa, porque de certa forma eu tenho ciúmes), da tua cara de sono. Queria saber onde tudo isso foi parar.


I was feeling insecure; you might not love me anymore. I was shivering inside... i'm just a jealous guy.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sístole, diástole.


Acelera, acalma, entra no ritmo e sai dele.
Quase sai pela boca, quase para de bater, quase denuncia e repousa.
Apaixona-se, ama, ama mais ainda e sofre.
Nega, mente, renuncia e aceita.
Dói, suspira, para, reanima.
E mesmo assim, ainda consegue forças pra guardar coisas e seguir em frente.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Troca-troca


Ta tudo indo muito rápido, coisas acontecendo a cada segundo. Todo dia acordo e não sou a mesma de ontem; meu cabelo muda, minha voz muda, meu peso muda, minha maquiagem muda, minhas músicas, meus gestos, meus cigarros e meus isqueiros, meus lugares preferidos, minhas comidas, meus amigos, minhas crises, meus planos e meus amores. Se hoje digo um “te amo”, amanhã pode ser um adeus, se hoje digo que estou com saudades, amanhã posso estar com outra pessoa. Sou inconstante, inquieta, indiferente, burra, benevolente, inconsequente, entre outras coisas.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Pintando de branco, preto e vermelho.


O verdadeiro palhaço de circo.
Que por traz dos sorrisos e brincadeiras, esconde a chaga aberta, e a dor que deveras sente.
Pinta a face toda noite, reinventa uma pessoa á cada camada de pó, faz o esboço de um sorriso. Falso.

Notas sobre Clarice e pessoas como ela.

Pessoas como eu deveriam hibernar em certas épocas do ano. Custo a acreditar que o mundo é assim e que nada posso fazer para mudá-lo, na verdade gostaria de mudar as pessoas ao meu redor, a forma de pensar e agir. Penso por muitas vezes que vivo isolada em um mundo que é apenas meu, onde durmo na hora que as pessoas acordam, e acordo quando elas dormem. Penso várias coisas noite adentro sozinha, fumando mais um cigarro na minha janela, olhando um pouco da paisagem da minha rua, e pensando: quando algo vai acontecer? Vez em quando penso que o mundo parou pra mim; vez em quando penso que quero uma coisa, e momentos depois já não a quero. Sinto muito medo de querer bastante e não ter nada, sinto medo de ser só, de estar só por muito tempo. Pessoas como eu sentem a necessidade de compartilhar seus pensamentos com outras, e quase sempre isso não da certo. Pessoas como eu são feridas por outras constantemente, e ainda por mais que isso seja masoquista, elas necessitam. Eu, Clarice, preciso sentir aquela dor que da coragem pra seguir em frente, que torna a pessoa produtiva, que te faz focar em outras coisas. Eu preciso de um tempo pra sarar as minhas chagas, as feridas que outras pessoas fizeram em mim, e que eu mesma fiz.



“Então eu te disse que o que me doíam essas esperas, esses chamados que não vinham e quando vinham sempre e nunca traziam nem a palavra e às vezes nem a pessoa exatas. E que eu me recriminava por estar sempre esperando que nada fosse como eu esperava, ainda que soubesse.”

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

sobre silenciar depois de tirar do jardim a rosa.

E lá, estava eu mais uma vez. Com as pernas cruzadas e, segurando um copo metade cheio, tagarelando sobre psicologia e mascando um chiclete já sem gosto. E lá, estava eu mais uma vez a esperar que a madrugada fizesse o favor de responder o que tanto anseio em saber. Enquanto ela não me responder, vou continuar a sorrir para as mesmas pessoas e sempre manter o copo metade cheio. Pro meu espanto, ás vezes, ao conversar com as pessoas termino por encontrar alguma característica sua. Sabe o que isso significa? Que você não é único como pensei. E que tenho que me preparar e acostumar a me deparar com alguns fragmentos seus por aí, espalhado pelos cantos e em alguns, quando eu menos esperar. E naquele lugar, estava eu mais uma vez, quando encontrei você no meio da multidão escura e barulhenta. Eu gosto muito do escuro porque nele a cor dos seus olhos não faz diferença. Só eu sei o quanto agradeci depois pelo barulho ter me impossibilitado de vomitar verdades, falar tudo que me dói e não quebrar juramentos internos como me poupar e deixar fluir. Depois desse dia, eu passei a acreditar que a cura pra alguns dos meus males está no silêncio e no saber silenciar. O silêncio evita situações desconfortáveis, maiores ferimentos, e a mentira – sobre mentir, me refiro ao falar coisas que talvez eu nem sinta, mas pelo fervor da discussão ou do diálogo, termino por dizer.
Não adianta recorrer aos livros de auto-ajuda, a terapeuta, a vodca, e nem ser insistente - tais coisas podem ajudar momentaneamente, mas no outro dia não irão fazer diferença, e afirmo isso com a convicção de quem já testou de quase tudo e construiu o castelo e desconstruiu várias vezes, mas só ganhou band-aids como prêmio de consolação. Mas silenciar, eu até então nunca tinha pretenso como solução até o momento em que consegui me calar e, para minha surpresa, eu estava certa quando um dia acreditei ser a cura para alguns dos meus males. Então, me deixa permanecer assim: quieta, com Bob Dylan sussurrando no meu ouvido que vou encontrar a resposta solta pelo vento em algum momento e calada, porque até agora tem dado certo.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Road to nowhere


Minha fase niilista voltou, mas, o que posso fazer se não consigo mais acreditar em nada. Será que é normal não ter mais paciência pra conhecer, e nem se envolver com ninguém? Creio que sim. As pessoas falam coisas sem saber o tamanho que aquilo pode ser. Não tem como não se apegar a uma palavra, quando ela é falada constantemente e com tanta certeza, e nem a uma pessoa, quando ela está sempre sorrindo pra você e falando coisas que todo mundo gostaria de escutar. Claro que já passei por isso tantas outras vezes, mas tem uma hora que cansa. O que me deixa mais p-u-t-a da vida é que durante um bom tempo eu vou escutar aquelas músicas que a gente ouvia, a minha música preferia de uma banda que tocou em uma certo momento, até o meu jingle político preferido(nem isso escapou)e vou lembrar do teu rosto me olhando, dos teus roncos, da voz de criança que você fazia sem notar, do cheiro do teu lençol. Cansei mesmo de tentar entender as pessoas, de querer saber suas estórias & dores & amores, cansei de dormir e acordar esperando alguém, cansei das manias das outras pessoas, de ter que dormir/acordar com alguém, cansei de achar que só eu tive aquele momento “especial”, cansei de viver em um filme onde tudo no final tem que dar certo. Minha vida não é isso, nada ta dando certo no final, se tivesse dando certo não teria final. Não quero mais escrever pensando em ninguém, e nem criar mais frases de efeito pra esquecer deitada no teu peito. Eu não quero mais nada disso. Não, eu não sou amarga (só um pouco) e nem odeio ninguém (só algumas pessoas), eu só cansei desse tipo de jogo, onde quem se mostra primeiro sai perdendo (se fode). Pra acabar com esse texto que não tem nexo nenhum, eu vou pedir um grande favor pra as pessoas que um dia calharem de me conhecer: Não diga que eu sou bonita, não diga que eu sou única/especial/mágica, não diga que eu tenho um sorriso bonito, ou que sou “smart”, não comente que sou pra casar e nem nada do tipo (porque eu sou mesmo), e nem como eu estou bonita com alguma roupa. Cansei desses clichês que as pessoas falam quando não tem nada pra falar. Já escutei tanto essas coisas, e nada deu certo, que começo a achar que é tudo mentira, que nada disso importa. Então quando alguém for me conhecer, seja e fale apenas a verdade, e se não tiver nada a dizer, não repita nada disso, porque eu não sou mágica, e nem o meu sorriso tem poder nenhum.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

(des)encaixe



-Eu deveria selecionar melhor os caras que me relaciono e quero horizontalizar, os que beijo na chuva e os que eu ando de mãos dadas. Eu deveria ter selecionado melhor você.
-Você vai negar que gosta do meu cheiro, da minha cara amassada de sono e de segurar a minha mão?
-Passei a desgostar na última vez em que a segurei. Ela se encaixou perfeitamente na minha e eu não quis soltá-la mais. Tenho medo de só me encaixar em você. E na sua mão gelada. E no seu abraço cínico.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

como se livrar de arritmia cardíaca.


Modo de preparo:

1. Misture pessoas, remédios, bebidas, músicas, cheiros e lençóis;
2. Acrescente suas paranóias e tentações;
3. Coloque tudo no liquidificador mental e bata bastante até misturar bem;
4. Saboreie.
Após alguns minutos, você vai sentir piedade de si e uma avalanche de náuseas;
5. Coloque o dedo na garganta e force o vômito.
Você estará limpo.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

romance tuberculoso.


Toda vez que Paula via João, ela morria um pouquinho. Ela se sentia invadida e paralisada por tanta paixão, desejo e remorso, e sem saber como cessar sentimentos tão intensos, às vezes, ela sentia calafrios. Sem conseguir lidar com a presença dele nos lugares, ela bebia vários copos de vodca pura e fumava três cigarros seguidos, quando cumprimentá-lo era inevitável. E morria mais um tanto, nas vezes em que ele logo após cumprimentá-la, puxava conversa enquanto mexia no cabelo dela. Paula sentia uma vontade absurda de sair correndo, pegar um táxi e sumir do mesmo mundo que ele. Ela só queria não ter que fingir que gostava de encontrá-lo nos lugares e que as coisas fluíam naturalmente, sem hipocrisia e desconforto. Na verdade, os flashbacks eram a tormenta de Paula. Doía lembrar-se do cheiro de jasmim que o quarto dele tinha e dos lençóis amarelos quentinhos que estavam mais para ímãs de tão atraentes e da preguiça que ela sentia de levantar-se dali. Doía lembrar-se das cócegas que ele tinha mania de fazer nela, quando eles iam a praia observar o pôr-do-sol. Doía não conseguir admitir a falta que ele faz. Doía não conseguir externar para ele a falta que o mesmo faz e da saudade que ela sente das cócegas, do lençol amarelo e do cheiro de jasmim. Doía a sensação de morte dosada. Doía também a cabeça, quando Paula acordava de ressaca após encontrá-lo. Doía em Paula ter que se contentar com o que restou: o gosto de passado na boca e João como assombração.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

love is all you need.



O amor é atemporal. Que mania tola que as pessoas têm de achar que amor é imaculado e não fere. Claro que machuca. Amar dói. Talvez porque as pessoas não tenham a noção exata da intensidade do sentimento e, conseqüentemente, o destroem e o sentimento amarga e se despedaça, sobrando apenas cacos finos e firmes que dão pontadas e rasgam. O amor é o que todos procuram e buscam, porque todos têm a ilusão que amar e ser amado são felicidade plena e a melhor coisa do mundo. E deve ser já que ninguém cansa de procurá-lo ou aceitá-lo de volta. Amor me intriga porque pode ser complexo e simples ao mesmo tempo e faz com que tudo deixe de importar: dias, meses, minutos, segundos...
A vida, enfim, chega a fazer sentido por completo. Preciso de alguém pra dividir o tédio, o saco de pipoca no cinema, as poesias de Paulo Leminski, o pedaço da minha torta de morango preferida e os filmes de Kubrick. Já fiz um juramento que ninguém mais vai estragar minhas músicas, pois é sempre assim: eu divido meus discos, as músicas que mais gosto, cada pedacinho, cada acorde e eles se vão fisicamente, mas ficam grudados como recordação nas músicas que dividi. Preciso de endorfinas. E de pessoas. Mas não quero precisar de nada. Não quero me repetir.
É tudo culpa dos Rolling Stones que me fizeram acreditar que: “I need a love to keep me happy”.

domingo, 20 de junho de 2010

20/06


Dia 20 de junho, uma data que vai ficar se não pra sempre, mas por um bom tempo na minha vida. Como vai ser difícil olhar esse dia no calendário, e saber que foi um dos melhores e piores dias do ano. Nesse dia eu abri os braços pra a maior felicidade que se pode ter na juventude, e pra a maior decepção que um amor pode causar. Nesse dia eu nem imaginava o que aconteceria dois meses adiante, e o quanto iria me marcar. Nesse dia meu me senti a pessoa mais amada, mais querida, mais acolhida e completa. Sessenta dias depois eu era a humilhada, a enganada, a personificação do bobo da corte. Eu poderia resumir os últimos trezentos e quarenta e quatro dias como os mais felizes e os mais pesados de anos pra cá. Como dói acordar alguns dias e notar a falta de algo, como dói relembrar toda a história, como dói saber que já passou, e se fosse pra voltar ao tempo seria da mesma forma. É gratificante saber que esses vinte e um dias eu consegui amenizar essa dor que tanto me dói, essa falta de uma voz, de uma palavra, ou até da ausência dela. A minha cama continua vazia de você, vazia dos teus roncos, vazia das nossas brincadeiras, minha cama agora é um poço de recordações. Quantas vezes eu já não tive vontade de sair rasgando o tecido, retirar as espumas, pra ver se acontecia o mesmo com as minhas memórias. Mas se fosse assim, teria que ter uma nova cama, um novo quarto, uma nova vida, um novo nome. Não consigo fazer essa mutação, não agora. Pode ser que eu mude meu quarto, pode ser que mude até de endereço, meus sentimentos também podem mudar, mas o meu nome continua o mesmo: amor. Sabe, não adianta agora, que algum tempo já se passou, que algumas coisas mudaram, você me mandar mensagem falando de saudade e esperando a minha resposta. Nunca mais vou te responder, nunca mais vou responder o chamado do “amor” que você emite, porque de alguma forma esses poucos dias sem a tua presença me fizeram ver que sou uma pessoa maior, que o mundo é grande, que posso crescer com ele, e que a cada dia a dor de não te ter diminui. Obrigada você, por ter me dado o seu “amor”, o seu “carinho” e sua “sinceridade”, de mim teve o que podia, o que não podia. Obrigada por ter me mostrado de uma certa forma o que quero pra minha vida, e o que não fazer com outra pessoa. Daqui a alguns anos vamos ser apenas bons conhecidos, minhas mãos não serão mais inquietas e suadas ao te ver, meu coração continuará a bater da mesma forma, ou até mais brando. Mas por enquanto, todo dia vinte e um de cada mês do ano será um dia de silêncio, de melancolia. Nunca vou esquecer do dia vinte e um de junho, onde seus olhos estavam cheios de promessas vazias, e o meu coração cheio de esperança.

365 dias sem ele.


Eu fecho os olhos e dói. Levando o braço direito e dói. Mexo-me no sofá e sinto dores nas costas. Talvez o meu corpo esteja alertando pra diminuir o ritmo, as bebidas, os excessos, antecipar a hora de voltar pra casa. O que importa é que meu corpo está sentindo a dimensão da dor que meu coração sente. Pela primeira vez os dois estão em harmonia e igualdade.
Um ano. Um ano e alguns dias que olhei pela última vez os olhos azuis mais bonitos e singelos que já vi. Um ano que eu, finalmente e infelizmente, soube o que é perder alguém. Alguém que foi essencial para eu me tornar o que sou e me ajudou a andar, formar minha personalidade e esteve junto a mim durante dezenove anos. Um ano que pela primeira vez chorei sozinha e descontrolada no escuro de tristeza - uma parte de mim se foi junto a ele - e alívio - pela as dores e sofrimentos suportados por ele terem cessado. Um ano que entro no quarto da poltrona rosa mais incrível e confortável, ninguém está deitado na cama esperando por um beijo, pois a mesma está vazia e ele não está mais lá como nos últimos anos. Ás vezes, eu me sento na poltrona e fico olhando para o teto esperando ouvir passos no chão até que percebo que ele não está tomando banho e nem está em outro cômodo da casa. Ele se foi, mas está imortalizado para quem o conheceu ou passa pela rua que leva o nome dele.
O tempo passa, podemos não perceber, mas o corpo e o coração vão sempre fazer o favor de nos lembrar.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

esboço de uma teoria das relações geminianas


Enquanto lia o horóscopo de gêmeos, me deparei como os geminianos se relacionam entre si no amor: “Dois volúveis que dificilmente se complementam se cada um não estudar a si próprio, para entender o outro. Vão se regozijar mais com a aventura e o sentido do humor que com a paixão em si mesma”.
Me identifiquei instantaneamente. Não consigo me relacionar com homens geminianos por muito tempo, todos os pseudo-relacionamentos que tive com eles não chegaram a ser concretizados.


O primeiro geminiano surgiu, quando a bagunça imperava. Minha vida estava fora do lugar e eu era uma adolescente medrosa, mas que se achava corajosa. Enfim, ele encontrou alguém que tentava se descobrir. As atitudes que eu tomava para surpreendê-lo me faziam sentir estúpida, mas eu não desistia e insistia insistia insistia nele. Ele quase me enlouqueceu, pois fazia o joguinho típico de adolescente de deixar o outro na dúvida e confuso que me irritava e logo ele, que compartilhava do mesmo signo que eu, deveria saber que geminianos não sabem conviver com a incerteza. Eu não conseguia estudar e nem fazer qualquer atividade bem feita e só pensava no dia seguinte para encontrá-lo. Eu impaciente, ele focado nos estudos, eu com pressa, ele sem pressa, dois inconstantes, diálogos forçados e bobos, pensamentos distintos, prioridades opostas: não perdurou. A pior coisa que ele fez foi ter tirado a graça de Stairway to heaven. Passamos um tempo sem nos ver e conversar, até que ele resurgiu das cinzas. Atualmente, ele tenta mostrar ser dócil e meu amigo (o que tem me intrigado porque ambos sabemos que nunca fomos amigos).

O segundo geminiano foi bem diferente do primeiro, tanto fisicamente quanto intelectualmente, mas também não foi além de me despertar sentimentos contraditórios. No íncio, eu me sentia idiota por não conseguir responder as perguntas que ele fazia e o pior é que eu gostava de me sentir assim, porque ele conseguia me cativar. Ele costumava receber como resposta para algumas perguntas que eu não conseguia responder, um sorriso. Eu conseguia entendê-lo bem, mas ele não me entendia. Ele fazia esforço para me decifrar e entender o que estava nas entrelinhas através de sinais, toques de mão e cores de esmalte. Ele dizia que conseguia entender meu humor pelas cores que eu pintava. Mal sabia ele que na maioria das vezes palpitava errado. Confesso que não fui a pessoa mais sincera, previsível, disposta a arriscar e ser decifrada. Ele quase me levou a loucura pelas cobranças feitas, tentativas de me fazer acreditar que estava sempre errada e por ter conseguido que eu me sentisse péssima várias vezes. Admito que perco o encanto fácil, não aprendi a estabilizar o humor, não gosto de rotina e ver alguém que me interessa todos os dias e ter que agir como ele espera me cansa e cansou. Não houve evolução na relação porque ele não soube compreender meu ostracismo. Se antes já não era fácil ouvir Radiohead, depois dele piorou. Inevitalmente, quando qualquer música toca, me vem a cabeça a barba dele.

O terceiro geminiano teve uma participação relâmpago na minha vida. Quer dizer, mais ou menos. Quando o conheci, eu estava desiludida, destruída e tentava me recuperar de uma frustração. Estávamos em um lugar barulhento e minúsculo que tocava Madonna e ele me abraçou, disse baixinho: “vai passar vai passar porque tudo na vida passa, a questão é manter o foco no que trás felicidade” e acreditei. Não sei se fui facilmente acalentada porque estava bêbada ou por ele ter parecido sincero, compreensivo e comovido – como se já tivesse passado por labirintos mentais insuportáveis - e eu precisava compartilhar tal sentimento com alguém que entendesse o que eu estava sentido e, naquele momento, encontrei conforto em abraços de um estranho. E foi isto o que ocorreu na noite em que o conheci: dois abraços. Dias depois, o encontrei ocasionalmente e conversamos horas a fio e a partir daí começamos a manter contato. Após alguns meses, ele ainda conseguia manter a imagem que tive dele no dia em que o conheci por acaso: sincero e compreensivo. E interessante.
Como a vida faz questão de ser engraçada e, por vezes, repetitiva, ele quase me enlouqueceu. De raiva.
A opinião formada que eu tinha dele perdurou até o dia em que ele quase me atropelou.

Não sei se a culpa é do acaso, universo, dos astros ou da minha falta de sorte. A questão é: geminiano e geminiana não conseguem ter um relacionamento tranqüilo, pois juntos formam um vulcão: as erupções são imprevisíveis e causam danos irreversíveis.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

"He’s so heavy "


I want you começa a pulsar em minhas veias, gritando dentro de mim. Eu começo lenta e calma, depois enlouqueço, tendo vontade de gritas por aí que te quero tanto! IT’S DRIVING ME MAD!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Quase uma sombra.


Queria saber o porquê de le moulin do Yann Tiersen me lembra tanto você. Poderia passar horas a fio escutando e imaginando teu rosto, que normalmente é o que faço. Chega a ser doentio ficar pensando como o seu sorriso amarelado por tanta nicotina é tão convidativo durante o dia, ou o seu silêncio durante a noite é tão charmoso. Por muitas vezes desejei ser assim como você, pra conseguir por um segundo entrar no teu mundo. Eu precisava dizer em algum lugar, e a qualquer hora o quanto você é bonito, quanta felicidade te aguarda, quantas pessoas melhores e maiores você irá conhecer, o quanto você pode fazer, e abrir os teu olhos; porque o mundo é enorme, que andar pra trás não adianta muita coisa, que sempre vai ter alguém te olhando de longe, te dando apoio de longe, te achando lindo e tudo mais de longe, que morre de vontade de falar todas essas coisas pra você com uma distancia máxima de 3 milímetros da tua boca, e que perde várias horas do dia pensando em como seria receber um sorriso teu.

Desabafo


Ontem eu senti uma coisa inexplicável, eu sentia dor, amor, compaixão, remorso, ódio. As paredes do meu quarto pareciam me sufocar, as janelas soavam como única saída, e por um momento considerei a hipótese de abrir-las e me jogar. Desfrutei de um sentimento de loucura e descontrole, de indignação. Na verdade eu nem sei explicar ao certo o que senti, mas juro que não quero voltar a senti-lo novamente. E nesse momento o desespero tomou conta de mim, eu não conseguia pensar e nem respirar direito, deitei na cama e tentei ler algumas páginas de misto quente, mas não consegui. Uma agonia, um enjôo tomava conta de mim. Era uma vontade quase que louca de sair gritando. Minha vontade naquele momento era gritar, morrer de gritar, esvaziar tudo o que tinha dentro de mim, preso, guardado, tantas coisas que algumas já estavam quase mofadas. Na verdade a minha vontade era de chegar ai na tua casa, bater na tua porta, e em seguida na tua cara; nessa cara lisa e descarada, de quem mente e não sente, de quem acha sempre uma saída. Mas ainda bem (não por mim, por você e pela sua integridade física) que o que me ocorreu ontem foi apenas um surto, que não voltara mais a acontecer. Acho que precisei dele pra me libertar, pra saber de verdade e muito bem o que não quero pra mim. Basta! Aquela foi a minha primeira e única dose de desespero. Enquanto a você, eu gostaria de verdade que tomasse um rumo na vida, que parasse de mentir tanto e fosse mais homem, que honrasse a pequena parte que tens entre as pernas. Na verdade quem está mentindo agora sou eu. Pra ser sincera eu queria que você pagasse por tudo o que fez comigo, que fosse pra a casa do caralho, pro raio que o parta e que fosse atingido, perdesse parte do lóbulo temporal e que não lembrasse de mim pro resto da sua vida.

"Algumas pilhas de lixo sentimental"


Olho pro meu quarto e vejo livros de uma lado, garrafas fazias do outro, roupas espalhadas, cama desforrada, e chego a pensar que o estado do quarto é uma representação do que acontece dentro de mim. Seria bem simples se eu pudesse pagar a alguém pra arrumar tudo, mas não da. Achar que uma segunda pessoa vai por tudo em ordem é perda de tempo. Tenho que acreditar mais em mim, aprender a fazer eu mesma as minhas coisas, ter mais esperança. Por esses dias eu li uma coisa, e como num piscar de olhos eu entendi tudo. Na verdade eu sempre estou na espera de uma terceira pessoa pra limpar a bosta que uma segunda pessoa fez, e assim começar a desorganizar tudo novamente. O meu problema é tempo, é saber esperar, saber aproveitar cada segundinho. Mas fazer o que se sou toda amor, se o que falta em algumas pessoas sobra ( e muito) em mim? Vou trocar a minha compulsão de amores por organização. Seria uma boa escolha.

terça-feira, 8 de junho de 2010

gelado dentro, gelado na xícara


Pode deixar, vou assumir todos os seus erros, responder por eles, levar toda culpa. Porque no fundo não importa, não faz diferença. Nada está fazendo diferença pra mim. Eu não ligo pra nada, pra ninguém, nem pra mim. Não ligo nem para os meus sentimentos, eles que se sufoquem. Não ligo mais para as injustiças presentes debaixo da minha janela nem para o assalto ocorrido na esquina imunda, se o que estão falando de mim é bom ou ruim ou me criticam na minha cara. Não ligo pra o que meus pais falam, se como muito e durmo pouco e se as minhas olheiras me deixam com uma aparência escrota, se minha pele está ou não oleosa e as espinhas estão nascendo com freqüência e nem para o esmalte vermelho descascado. Não ligo para as notícias de guerra, fome ou pobreza nos noticiários, se o Bob Dylan vai lançar outro livro ou não; se faz chuva, sol, frio ou calor; não ligo que minhas pernas estejam com marcas roxas das batidas que dei de madrugada e nem de estar em uma festa com milhares de pessoas a minha volta e ficar afastada delas, sozinha sentada em uma cadeira com um copo de vodca com morango na mão ou em pé, forçando que meu corpo se sintonize a música. Sinceramente, nunca liguei. Não ligo se alguém fala que vai me ligar e não liga e nem de estar um pouco calada ultimamente, não ligo para sensações, para mentiras, para verdades, para a cor do céu, para o menino que faz acrobacias com fogo no sinal, nem de escrever usando metáforas. Está tão sério que nem ligo se o café está gelado, amargo ou sem açúcar.

domingo, 6 de junho de 2010

“sinto amores e ódios repentinos por você".


São quatro horas e trinta e dois minutos da manhã, cheguei a alguns minutos em casa, abri a geladeira, peguei um pedaço de torta, mas perdi o apetite quando li a mensagem de texto que você enviou. Veja bem: a minha resposta não cabe em mensagens de texto, eu poderia escrever trinta mensagens que todas elas seriam insuficientes para descrever o que pensei e desejo falar. Eu poderia ligar pra você agora, não é? Mas não vou. Preferi beber um copo de água, tomar banho e fingir que o conteúdo da mensagem não me fez pensar e ter vontade de externar alguns fatos. Eu gostava dos beijos na cabeça que recebia de cumprimento, de conversar sobre filmes que nem foram lançados, da sua companhia na esquina daquela rua que conhecemos muito bem, dos sorrisinhos envergonhados, do impacto que a sua sinceridade me causava, das conversas bêbadas, do fato de você escrever com a mesma mão e ter o mesmo signo que eu (na verdade, me assustava). Aparentemente, isso deveria bastar para eu ter vontade de iniciar uma nova relação e me entregar a ela, não deveria? Mas não bastou. Descrevo nossa relação em uma palavra: sintonia.

Consegui perceber que por trás do fone de ouvido que tocava Radiohead tinha uma criança.
Mais de vinte invernos na teoria, entretanto na prática... mentalidade de dezessete anos. Alguns planos, sede por viver, vícios. Você é vários problemas vestidos de gente. Por um tempo, pensei que os vícios eram passageiros e forçados, culpa da crise dos vinte anos ou desejo de se afirmar. Depois percebi que eles fazem parte de você e da sua parte ruim.
Sabe o que me passou pela cabeça agora? O quanto eu sou idiota já que na mensagem não tinha nem cinco palavras e estou aqui, fazendo um esclarecimento desnecessário e inútil. Sim, inútil, pois não vai mudar minha opinião e o que sinto, senti, sintamos. Sabe o que eu quero? Que você me evite. Prefiro que você finja que não me conhece e vire o rosto do que continue com esses joguinhos de mensagens e frases bem articuladas. Afinal de contas, você não está felicíssimo, bem acompanhado e resolvido como aparenta? Cansou de se fingir de bonzinho e mostrar que é cafajeste? Uma amiga minha certa vez me disse: “Ele não deve ser tão bonzinho como parece” e ainda bem que não duvidei dela. Eu deveria ter guardado essa afirmação pra falar pessoalmente, olho no olho, ouvindo sua respiração e vendo sua reação, mas honestamente espero não ter esse tipo de conversa com você e nem qualquer conversa que envolva frases no plural e relembrem o passado.
Quer saber? Vou apagar tudo que escrevi e não vou responder a mensagem por ter certeza que vamos ficar numa gangorra, pois você vai responder de volta e vamos trocar diversas frases que não foram espontâneas e verdadeiras e prefiro ser a primeira a descer da gangorra.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

amanhã tem sol.


Final de tarde de uma quarta-feira qualquer. Eu e um amigo estávamos saindo da faculdade, quando um senhorzinho baixinho que trajava camisa social marrom e tinha a barba branca o cutucou, apontou pro céu e disse: “Olhem o céu! Nossas vidas são tão apressadas que a gente nem se lembra de olhar e admirar o céu, não é? Olhem que cor mais linda!”. Eu e meu amigo sorrimos maravilhados com a observação do senhorzinho: sim, o céu estava lindo e, de fato, a gente nem se lembra de admirá-lo.

Já em casa, fiquei horas divagando sobre tamanha beleza que havia compartilhado até que surgiu a sensação de que o tal homem despejou água fria na minha cabeça. As duas últimas semanas foram tão exaustivas, pois todos os dias eu engoli raiva e frustração e estou até agora sem conseguir digerir. Sentimentos negativos acumulados me consomem e dói tanto, interiormente, que sinto um câncer brotando. O senhorzinho de barba branca surgiu naquele momento pra me fazer parar de olhar unicamente pro meu umbigo e notar o meu redor, o mundo, as árvores, os pássaros, o céu cor-de-rosa. Observar, digerir, continuar.

Provavelmente, fosse isto que eu precisava: alguém que me sacudisse e mostrasse que apesar de todos os sentimentos contraditórios e confusos que venho sentindo, preciso olhar pro céu e ter a certeza de que alguma coisa bonita me aguarda.

sábado, 22 de maio de 2010

where two and two always makes up five.


Uma das poucas certezas que tenho na minha vida de solteira é: preciso ter duas ou três noites estranhas para ter uma incrível.
Quando digo “noite estranha” me refiro a acontecimentos inesperados que causam desconforto ou constrangimentos: brigas entre amigas, lugar cheio de gente suada que dança e se esfrega em você, limpar vômito alheio, pessoas que falam o que não devem e tentam forçar situações e por aí vai... Aquela noite que enquanto você volta pra casa jogada no taxi friorento pensa: “Que madrugada bizarra. Se eu tivesse dormido teria me poupado de certas coisas.” Contudo, as noites estranhas não diferem muito das incríveis no dia seguinte. Porque a realidade, meu amigo, faz questão de ser cruel.

Mesmo que você se divirta, ria até chorar, beba todas as cervejas do bar, conheça pessoas interessantes; no outro dia você vai acordar com os olhos borrados de rímel e sozinha. Inevitavelmente, ninguém vai ligar pra saber se a ressaca te visitou, se o enjôo bateu ou se você está com vontade e disposição de sair para comer o temaki número 16 do cardápio. Ou seja, a noite só foi incrível no momento em que estava acontecendo porque no dia seguinte você acordou com o rímel borrado e com a solidão como companhia.

A segunda-feira chega juntamente com as responsabilidades que tem que ser cumpridas, você relembra as noites incríveis do final de semana para dar fôlego e encarar os próximos cinco dias de bom humor. Sobrevive-se a mais uma noite estranha no final de semana seguinte, saboreia-se uma noite incrível no próximo e assim a vida noturna segue: oscilando entre noites estranhas e incríveis, mas com a certeza de que no dia seguinte vai ser inevitável acordar com a sensação de que precisa de mais.

terça-feira, 18 de maio de 2010

letargia.


Cansaço que gera impaciência que gera má vontade que gera desinteresse que gera irritação que gera grosseria que gera abuso emocional que gera vontade de gritar que gera vontade de sumir que gera desespero que gera ansiedade que gera inércia que gera insônia que gera nervosismo que gera vontade que o mundo exploda: meu estado atual.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Le Moulin.


Porque negar aquilo que se sente?
Pra que magoar com palavras vazias?
Pra que mentir repentinamente se todos sabem que não é verdade?
Mentir pra si mesmo é um grande passo para um mundo em que apenas você vive. Amar dói, ficar só dói, gostar de alguém que não gosta de você dói, alguém gostar de você e você não corresponder também dói. Na verdade tudo dói, depende apenas do ponto de vista. Tudo depende de um ponto de vista. E a saudade é sempre dolorosa, constante, pesada e demora.



http://www.youtube.com/watch?v=Hm0g5trWV9c

terça-feira, 11 de maio de 2010

para aquela que tem dois enês no nome


Há três anos, escrevi para ela que a mesma não pode ser caracterizada por palavras, pensamentos e sim, pela ausência deles, pois ela é feita da mesma matéria que são feitos os devaneios, os delírios, as loucuras. Hoje, ratifico tudo que foi escrito e acrescento que poucas amizades não se deterioram. Algumas pessoas conseguem deixar marcas irremovíveis tão profundas que se agitam, de uma maneira tão frenética, que me pego sorrindo por saber que ela é uma certeza minha. Eu poderia descrever momentos, viagens, internas, tristezas, dúvidas, almoços na quarta-feira, noites de bebedeira, arrependimentos compartilhados. Eu poderia descrever o que fizemos ao subir no palco do maior festival de rock da cidade; certo show em novembro que até hoje rende comentários, mas só a gente sabe o que, realmente, aconteceu ou a noite que ela me salvou em um pub. Todas as descrições seriam insuficientes perto do que ela me ensinou e vai ensinar.

Daqui a um mês, a aniversariante de amanhã vai me abandonar por seis meses, pois vai trocar o calor e caos de Recife pela maior cidade daquele país da bandeira branca e vermelha que tem uma folha no centro. O que me consola é a certeza de que vai ser uma experiência incrível e dará mais felicidade à alma dela.

Pra ela, aquela que tem dois enês no nome: quero desejar desde já muita luz, lucidez e pequenas doses de loucura escorrendo nas veias. A energia solar - prefiro chamar assim porque é tão forte, radiante e nunca se acaba - que você transmite pra quem está próximo, vai ser disseminada, não me restam dúvidas. Voe. Ás vezes em vez de vôo vem à queda, mas não se preocupe quanto a isso, se acontecer vou estar aqui pra tirar você do chão.
Parafraseando Caio Fernando Abreu: “Eu só queria que você soubesse do muito amor e ternura que eu tinha — e tenho — pra você.”

segunda-feira, 26 de abril de 2010

in-felicidade & tristeza

happiness is a warm gun...

Certa vez me disseram: “Felicidade é utopia. Ninguém é feliz. Eles estão felizes.” Até que ponto a afirmação é verdadeira?
É improvável alguém conseguir ficar feliz durante sete dias? As revoltas, mágoas, decepções, azar, notícias ruins que se manifestarem no meio do caminho serão apenas obstáculos insuficientes para a pontinha de infelicidade surgir?
Será a raiva, um sentimento tão sólido e poderoso que faz do ser humano vingativo, inquieto, impaciente, triste, infeliz?


fe.li.ci.da.de
1. qualidade ou estado de feliz; ventura, contentamento.
2. sucesso; êxito.


O que me faz feliz são momentos.
O que me dá imensa paz e me faz sorrir interiormente é observar o pôr-do-sol seja do meu quarto, da varanda do meu apartamento ou do oitavo andar da faculdade ao som de Marvin Gaye ou qualquer trilha sonora que me comova e agite meu cérebro. Há tantos momentos supérfluos que podem render aquele pensamento de estou-tão-feliz-que-poderia-morrer-agora. Você pode sentir tamanha sensação de benção no momento em que saboreia sua torta preferida de morango, qualquer outro doce delicioso ou apenas em estar na companhia de quem gostaria exatamente onde gostaria.


Cazuza afirmou: “ás vezes, fico triste, mas não consigo me sentir infeliz”. Sinto o mesmo. Não consigo me olhar no espelho e me chamar de infeliz. Sou grata por tudo que tenho e já tive. Tenho alguns amigos leais e prestativos, minha família é unida, estudo na universidade mais conceituada do meu curso do Nordeste, sou saudável, tenho minha caneca de oncinha preenchida com café religiosamente ás seis horas da noite, meus discos trazem suspiros e me socam com a realidade.
Reclamo do calor, trânsito, das pessoas, comidas, barulho de obra, professores carrascos, fracassos amorosos, mercado de trabalho, mas juntos não são suficientes para me sentir infeliz.
Tristeza e infelicidade são bem diferentes e talvez a pessoa que me disse que ninguém é feliz e sim, está feliz não saiba diferenciá-los.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

(des)complicar

 
 


Algumas pessoas são realmente boas em complicar situações que são simples, mas o que é, genuinamente, simples? Passei as últimas horas na tentativa e esperança de encontrar algo não tão complexo, mas que na maioria das vezes é dito como complicado. Atravessar a rua, por exemplo. Aposto que você está pensando: “o que tem de complicado em atravessar a rua?”. Para mim, executar essa ação não é das coisas mais fáceis da minha rotina. Ir da rua da faculdade até a rua da xerox é exigido de mim muita concentração. Desastrada como sou, olho pros lados umas três vezes, procuro se tem bicicletas ou motos na rua, tento imaginar se o carro vai entrar na rua e se o motorista esqueceu de dar sinal (agora você está pensando: “que paranoica”, pois bem, já quase fui atropelada devido ao esquecimento do motorista). Já meu amigo que não tem pudor em cruzar uma avenida com carros movimentos e faixa de pedestre não existe no seu vocabulário, acha engraçado meu medo, ri da minha cara e afirma que tal atitude é de quem é adepta a arte de complicar. Engraçado é, de fato, ele esquecer que em algum momento de “bravura” pode acontecer algo mais grave como um atropelamento. Em contrapartida, ele é adepto a arte de complicar relacionamentos. Até aqueles que não foram consolidados e estão na primeira etapa: cativar. É muito cômodo ficar preso em um casulo esperando as coisas acontecerem. É muito fácil ser alguém difícil e medroso que se esquiva de arriscar, mas reclama que é rejeitado.


Um dos meus rituais diários para aqueles dias reflexivos e introspectivos é procurar na minha estante um dos melhores presentes que já ganhei: o livro com a coletânea dos melhores poemas do Paulo Leminski. O livro que tem a capa amarela, roxa, verde e laranja já me mostrou muitas respostas que estavam óbvias, mas que por ceticismo ou porque passaram despercebidas não enxerguei antes. O ritual consiste em pedir uma resposta mentalmente, abrir em uma página aleatória e tentar entender em qual contexto a poesia exposta se encaixa. E lá estava:


simples
como um sim

é simples
mente
a coisa
mais simples
que ex
iste
assim
ples
mente
de mim
me dispos
des
(aus)
ente

Pra que complicar? Descomplica!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Pedaço extraido de mim.



E nos momentos de aflição, de angustia total é que me lembro de ti. É que me lembro de como era bom ter o teu ombro pra chorar, de como era bom ter os teus carinhos, teus consolos, ou até teu silêncio, mas ter você ali comigo. Tenho saudade de dormir abraçadinha contigo, de te fazer café da manha, de dar um beijinho de bom dia. Meu coração chega fica pequenininho quando penso no que aconteceu com a gente, no que tu fez com o meu amor por ti. Agora vivo apenas nas lembranças, me matando em saudades, em noites não dormidas, em busca de encontrar aquilo que tinha em você e outra pessoa. Queria você aqui, agora, me abraçando, me chamando dos nossos apelidos carinhosos e bobos, de escutar tuas juras de amor, do teu cheiro e gosto. Mas tudo na vida passa, e eu vou esperar essas memórias tuas tão fortes serem expelidas de mim.

Autofagia.

Sou só sorrisos e alegrias, mas ninguém melhor que eu sabe das vontades presas que tenho. Sou um choro, uma vontade, uma pessoa, mas principalmente memórias presas. Às vezes tenho vontade de te encostar no canto da parede e dizer: Porra, olha que merda que você fez das nossas vidas, eu te amaria pra sempre, eu me entreguei totalmente a você e olha o que recebi! Seu filho da puta, traidor de merda, mentiroso, dissimulado, meu amor. Que saudade de escutar um meu amor saindo dessa tua boquinha rosadinha e pequena, que cabe exatamente na minha, que vontade de sair arrancando dentro de mim o orgulho e as memórias e dizer pra você voltar. As coisas não são fáceis assim, e nem seria melhor se assim fossem. Toda dor que passamos nos servem de alguma coisa, e quem sabe essa dor que já me doeu muitas outras vezes não passa também. Vou tentar em outras bocas e corpos encontrar aquilo que tinha em você, aquilo que a gente tinha de tão especial. Fico tentando buscar uma resposta pra a pergunta que não sai da minha cabeça: como o conjunto de palavras, atitudes podem acabar uma coisa tão forte que se chama amor? Juro que com toda a minha experiência em relacionamentos eu só imagino uma outra palavra pra responder a pergunta. Amor próprio. Quando uma pessoa diz que te ama e acaba fazendo certas coisas isso fere o teu orgulho, teu amor próprio. E tem pessoas (assim como eu) que não conseguem conviver com o “orgulho ferido”. Quando alguém diz que você é única ele tem a responsabilidade de te mostrar e te fazer sentir como tal. Você só pode falar e prometer aquilo que sabe que pode cumprir. Pra que falar uma coisa e agir de uma forma diferente? Pra magoar o outro? Pra se firmar como “eu que mando aqui, e está tudo no meu controle”? Nada disso adianta, quem fere depois será ferido com o sentimento de perda, com o ciúme fútil e vazio corroendo todo o seu ser, até acabar sozinho amargo e sem perspectivas. Prefiro assim, ficar aqui, sentada vendo a vida passar e me agarrando nas oportunidades de ser feliz novamente, curtir o momento. Prefiro viver a minha história de que a mercê de outra pessoa, prefiro procurar em outros corpos aquele abraço apertado embalado de sentimentos que você tinha, prefiro o outro, o novo de que você. Espero a cada dia que passa em minha existência extrair você de mim como quem arranca uma unha encravada que não te serve mais de nada, apenas para sentir a dor e te incomodar, te expulsar do meu corpo assim como quem quer curar uma doença, do meu pensamento, deixando assim, um lugar limpo e vazio pra outra pessoa, ou para mim. E afirmo que estou conseguindo.

Esconde-esconde.


Fazemos de conta não notar que existe um elo mais forte, alguma coisa que nos atrai. Deve ser a forma que me olhas, ou quando a tua mão acaricia minhas bochechas, ou até mesmo a tua mania de repetir algumas palavras. Fingimos nunca ter nada de mais importante ou profundo para dizer um ao outro. Deve ser o medo de deixar as coisas mais definidas, de expor os sentimentos, assim tornando-se mais transparente e legível um ao outro. Tenho tanto medo quanto você de me mostrar e não agradar, sempre temos esse medo. Mas o que vejo em ti até agora me agrada e muito. A gente solta as coisas de uma forma impessoal, por olhares ou mensagens, por sorrisos congelados, aquela cara de quem acabou de ver a melhor coisa do mundo e quer guardar pra si. Entregamos-nos pequenos (grandes) detalhes, e ficamos ali, um sabendo do que o outro está pensando, um sabendo que não pode mais esconder essa tal coisa. Mas nos enganamos tão bem, e fingimos não perceber nada, e assim levamos os dias, com mais mensagens, mais olhares e beijos, até quem sabe, a gente pare de fingir que nada demais acontece e resolva o que está mais que claro. O pré destinado.

sábado, 17 de abril de 2010

abril febril

Quando o mês de Abril chega tenho uma certeza já que todo ano é a mesma coisa: as pessoas vão enlouquecer. Todas elas surtam durante o maldito mês que parece não acabar. Por quê?


Talvez seja porque a ficha caiu que o ano começou há quatro meses e ninguém fez nada que tenha se orgulhado. Talvez você tenha analisado o calendário e percebido que o carnaval não faz tanto tempo que aconteceu, mas o próximo ainda vai demorar bastante já que ainda será preciso atravessar Agosto. Talvez o que enlouqueça alguns sejam as provas da faculdade que chegam, uma atrás da outra e o estudante se vê perdido de tanto assunto pra estudar e desesperado com medo de não cumprir os prazos de entrega dos trabalhos. Talvez Abril seja o mês em que o chefe comunica que mais um atraso é igual à demissão. Talvez seja porque alguns param para rever sentimentos, amizades, atitudes e se tornam impacientes, pois esperam que os quebra-cabeças se encaixem ou tudo volte ao lugar rapidamente.
Enfim, abril é o mês que ninguém cura as febres e sim o da impaciência, preguiça, ansiedade, mau humor, falta de vontade, explosão das febres. Mês de respirar fundo todos os dias, ouvir Nina Simone para acalmar os nervos e repetir pra si que o outro dia será menos enlouquecedor e sim, há de ser.


“There will be no sorrow, let it be...”

domingo, 11 de abril de 2010

monólogo

From: Melina
To: Bruno
Subject: leia
Date: Mon, 5 Apr 2010 22:42

Bruno,
Deu vontade de escrever um e-mail só pra lembrar que você continua sendo o que sempre foi pra mim.
Beijo, M.

From: Melina

To: Bruno
Subject: leia2
Date: Mon, 5 Apr 2010 23:15

Bruno,
Na verdade eu tenho mais coisas pra te falar. Uma delas é que me arrependo de não ter te falado aquelas três palavrinhas, mas infelizmente quando notei que te amava foi tarde demais, você já tinha ido. E foi justamente pelo fato de ter ido que notei que te amava. Então, fique sabendo desde já que eu te amo. Beijos, Mel.

From: Melina

To: Bruno
Subject: sorry
Date: Tue, 6 Apr 2010 09:32

Bruno,
Desculpa por ter te escrito aquelas bobagens ontem. Não era exatamente aquilo que eu queria dizer. Na verdade, não te amo não. Veja bem, estava sozinha em casa no final da segunda-feira conturbada com uma garrafa de vinho aberta ao lado do teclado, deu vontade de te escrever um email e acabei exagerando. Eu gosto de você, mas amar não amo não.

Vamos almoçar algum dia?
Beijo, Mel.

From: Melina

To: Bruno
Subject: cade voce?
Date: Tue, 6 Apr 2010 14:56

Bruno,
Por que você não responde meus e-mails e nem retorna minhas ligações? Fiz algo errado? Por favor, me responda, pois preciso saber. Não gosto desse silêncio.
Beijos, Mel.

From: Melina

To: Bruno
Subject: esquece
Date: Tue, 6 Apr 2010 19:02

Bruno,
Pode esquecer tudo. Não precisa me ligar nem responder meus e-mails. Se você não faz questão, eu também não faço! Por favor, não me ligue nunca mais. É muito difícil ter que aceitar seu silêncio como se fosse a coisa mais normal do mundo. Não é. Você sabe que não é e faz de propósito. Se você quer me deixar louca fique sabendo que não vai conseguir, ok? Vou seguir minha vida e encontrar homens melhores que você. Beijo.

From: Melina

To: Bruno
Subject: …
Date: Wed, 7 Apr 2010 10:32

Bruno,
Quero te agradecer por ter me feito perder a hora do trabalho, chegar uma hora atrasada e tomar bronca do chefe por sua causa só porque fiquei sozinha até quatro horas da manhã naquele bar aqui perto de casa, entornando cachaça pura e pensando em você, em mim, em nós. Muito obrigada por estar grudado em mim como uma dor de cabeça. Some, por favor. Mel.

From: Melina

To: Bruno
Subject: abra
Date: Wed, 7 Apr 2010 17:48

Bruno,
Meu vizinho está tocando Tangerine. Quando finalmente consigo parar de pensar em você, você reaparece em um solo de guitarra. Você sabe que essa é uma das minhas músicas preferidas do Led Zeppelin e a única que sei tocar na guitarra e veja só: você conseguiu transformá-la em uma musica dolorosa, que me dói ouvir. E sabe do que lembrei? De quando você me ensinou a tocá-la na guitarra. Lembrei de como você era atencioso e paciente por me explicar passo a passo. Escrevi certo: era atencioso, já que nem responder meus emails você faz. Nesse exato momento, o vizinho está tocando a maldita música mais uma vez. Não mereço ouvir isso, vou sair de casa, dar uma volta na praia, respirar e beber uma água de coco.

From: Melina

To: Bruno
Subject: idiota
Date: Thu, 8 Apr 2010 07:35

Bruno,
Troquei a praia por um bar e acordei com uma dor de cabeça dos infernos. Fique sabendo que a culpa é sua mais uma vez. Você tem sido o motivo das minhas ressacas, dores de cabeça, mau humor, a porra toda. Enxergo seu silêncio de outra forma, sabia? Você não merece que eu beba, chore, sofra por você, pois você é muito mesquinho, egoísta, bipolar. Meu corpo está cansado de sentir a mesma dor que meu coração. Melina.

From: Melina

To: Bruno
Subject: último
Date: Thu, 8 Apr 2010 23:12

Bruno,
Escrevo só pra afirmar que não quero você mais na minha vida. Apaguei do meu celular o seu número. Não preciso das suas ligações nunca mais, ok? Você pode conviver com isso? Se a resposta for não, comece a aprender porque chegou a minha vez de ser feliz de verdade. Seja feliz também.
Beijos, Melina.

terça-feira, 30 de março de 2010

don't hang around 'cause two is a crowd on my cloud, baby.

- Só quero que você saiba que estou exausto.
- De que?
- De ficar tentando te odiar. Sabe, até hoje não entendo porque você não quis tentar dar certo e me deixou plantado na porta da livraria com um sorvete nas mãos.
- Eu te expliquei um dia no banco da praça, lembra? É muito difícil lidar com você, com o que você provoca em mim, não sei se estou preparada pra perder o controle de vez.
- Por que você tem tanto medo que eu seja maravilhoso pra você?
- Eu sei que você não será maravilhoso. Eu tenho certeza disso, você não vai conseguir. Sei que vai tentar, mas não vai conseguir.
- Você realmente não me quer.
- Não queria te dizer com essas palavras, mas é exatamente isso que venho tentando te mostrar através de ações. Você é tão bom, mas não pra mim.
- Por quê?
- Preciso de mais, entende? Você me perturba de um jeito estranho, provoca sensações confusas dentro de mim, me deixa com a garganta seca ao te ver, mas isso não me basta, entende? Quando você me abraça, sinto que você não me basta.

sábado, 27 de março de 2010

pessoas lá e você cá.


People always leave. Foi exatamente isso que Bianca pensou quando ele saiu por aquela porta depois de dizer que não queria mais ser só dela. A justificativa usada foi que precisava ajeitar a cabeça, começar a realizar projetos e que não queria manter-se preso a uma só pessoa. Bianca sabia que essa não era a verdade. Imediatamente, fechou a porta, foi até a cozinha, abriu a geladeira vermelha que tinha um bilhete dele pendurado dizendo o quanto ela era linda, amassou o bilhete, pegou um vinho e sentou-se no chão gelado. A cada gole, lembrou de uma frase, uma música, uma mania, um vício, um gesto dele. Lembrou do jeito que ele passava as mãos no cabelo e o quanto excitante a cena costumava ser. Lembrou de todas as vezes que conseguia surpreendê-lo com um jantar, um livro ou um vinil quando ele chegava cansado do trabalho. E ela acreditava ser realmente boa nisso: surpreedê-lo. Lembrou de quando colocava uma camiseta cinza surrada do Dinosaur Jr que ele trouxe de presente quando visitou Milão, lia poesias de Fernando Pessoa enquanto ele ficava sentado imóvel na cadeira amarela com a xícara de café entre as mãos, ouvindo palavra por palavra e o olhar de ternura dele quando isso acontecia. E esse olhar sempre era lançado. Bianca pensou que não, não era possível que ele tivesse se cansado dela, assim, sem mais nem menos, tão rápido. Bianca não conseguia se conformar com a ideia de que as pessoas sempre arranjam uma maneira de ir embora, bater a porta da vida na cara de outra e dizer “tchau” em vez de “até breve”. Ela se questionava se tudo que eles haviam compartilhado e vivido não passou de uma mentira, passatempo, diversão temporária (pra ele). Foi mentira quando ele disse que foi abastecer o carro, viu o chocolate preferido dela, comprou três caixas, deu-lhe um beijo e disse que ela conseguia ser mais doce que todas as caixas juntas? Foi mentira quando ele ligou às cinco horas da manhã pedindo para encontrá-la e abraçá-la, pois tinha tido o pior pesadelo de todos os tempos? Foi mentira quando, em um show da banda dele, ele dedicou uma música a ela? E todas as músicas compartilhadas, todas as poesias que falavam de amor, todos os filmes que ela assistiu segurando o braço dele, e as ligações de madrugada, as mensagens românticas no celular, as caixas de chocolate, tudo mentira?
Bianca não conseguia entender como as pessoas conseguiam ser solitárias e felizes ao mesmo tempo. Como as pessoas conseguiam a proeza de estudar, trabalhar, cuidar da casa, ir à feira com o coração partido e fingir que não foram deixadas para trás. Todo mundo já foi deixado, já viu alguém querido partir e se não viu, é questão de tempo, pensou. Só ela tinha vontade de ficar trancada no quarto ao som de Frank Sinatra tentando entender o ponto que errou? Ou as pessoas que estudam, trabalham, cuidam da casa, vão à feira com o coração partido já passaram por tanta confusão mental que aprenderam a viver com a ferida mal cicatrizada?
Ela lembrou que não foi a primeira vez que foi deixada. Aquela amiga desde os doze anos mudou pro interior, o amigo que ouvia todas as dores e alegrias mudou de país, o avô de quem ela tinha lindas memórias da infância não estava mais aqui. Consegui sobreviver com a saída dessas pessoas da minha vida, por que não posso suportar o fato dele ter ido embora? Falou em voz alta. Afinal, ele ia continuar sendo o cara que ela namorou por dois anos para quem lia poesias, assistia filmes com os braços entrelaçados, tinha o nariz mais lindo que ela já viu e grudava bilhetes na porta da geladeira. E que a deixou com o coração partido, estraçalhado, diminuído, saltando pela boca.
Escreveu em um papel uma frase de Caio Fernando Abreu que gostava tanto: “meu coração está ferido de amar errado”. Grudou na porta da geladeira para que fosse obrigada a ler todas as vezes que passasse pela cozinha até se convencer de que a frase fazia sentido e que, people always leave, quer ela queira ou não. Afinal, ninguém morre de amor.

quarta-feira, 24 de março de 2010

quando “não me importo” está na mesma frase que “foda-se”.

Combinei de fazer um trabalho em dupla, passei boa parte da madrugada terminando minha parte, cheguei à faculdade e minha dupla afirma que não fez nada porque optou por dormir. Decidi colocar apenas meu nome e expliquei que fiz o trabalho sozinha, portanto o esforço foi apenas meu e não tem justificativa colocar o nome da outra componente aí é quando escuto que essa atitude é de gente injusta e “sacana”. Não discuti, dei de ombros e falei baixinho: “foda-se, não me importa o que você acha de mim.”

Em um sábado, desses que a gente sai apenas com o intuito de beber uma cerveja sem esperar muita coisa da noite, encontrei um amigo do meu ex-namorado na porta do banheiro do bar. Cumprimentos a parte, o muy amigo me informa que o meu ex está “solteirão”. Dei um sorriso amarelo e engoli seco - por pouco não perguntei o que o levou a achar que isso fosse me interessar. Voltei pra mesa, dei um gole na cerveja e pensei: “foda-se o estado civil dele porque não me importa.”

Essas e outras situações, que passamos no dia-a-dia, são como testes. Quando percebemos que não nos importamos, ficamos surpresos e pensamos o quanto é engraçado causar indiferença situações que, supostamente, deveriam nos incomodar.
Quando eu estava voltando para casa cansada em uma tarde chuvosa, o pensamento que martelava era: “será que realmente as coisas estão tão bem resolvidas assim dentro de mim?”.


Após alguns minutos, cheguei à conclusão que, foda-se, esse questionamento não faz diferença porque nada disso parece me importar.

domingo, 21 de março de 2010

minha paixão platônica e o mais ridículo que isso possa soar.

O ano era 2004 e o local era Gramado, no Rio Grande do Sul. Como era vinte e três de dezembro, a cidade toda estava com decoração natalina, nas ruas havia grandes caixas de som com um grande laço vermelho onde tocavam músicas bonitinhas e ás vezes até ópera; as pessoas davam a impressão de que haviam sido picadas pelo mosquito do consumismo, pois seguravam mais sacolas do que conseguiam. O hotel era marrom, ficava em um grande descampado verde e de frente para a Aldeia do Papai Noel. No dia seguinte a minha chegada, o céu já estava escurecendo quando voltei ao hotel e encontrei um carregador de malas na porta. Ele não era muito alto, mas também não era muito baixo, tinha cabelos pretos um pouco arrepiados e estava parado com as mãos no bolso. Ele sorriu e disse: feliz natal. Ele tinha uma voz grave tão bonita e um jeito de ficar parado com as mãos no bolso que despertou minha atenção.
Janeiro chegou com 2005, e uma das melhores partes da viagem era voltar ao hotel e ouvir do carregador de malas: “boa tarde” ou “boa noite”. E foi aí que ele tornou-se minha primeira paixão platônica.
Certo dia chuvoso que media treze graus, avistei uma loja de discos e vinis que tinha na vitrine um violoncelo enorme e imediatamente entrei. Após dissecar toda a loja, comprei alguns discos e voltei caminhando para o hotel com o vento gelado batendo no rosto. Alguns dias depois, fui tomar o café da manhã sozinha já que sempre sou a última a acordar e me deparei com o carregador de malas no elevador. Fiquei envergonha de olhá-lo no rosto e por isso, fixei nas mãos dele. Sem mais nem menos, ouço: “não conheço mais ninguém que goste de Placebo fora você, eu e meu irmão.” Fiquei em êxtase, sem saber o que responder e provavelmente fiquei vermelha. Não lembro o que respondi e o que conversamos logo depois, mas lembro que vi um piercing na língua e fiquei desejando segundo por segundo que o elevador fosse o mais devagar possível.
No café da manhã, tentei organizar minha cabeça e repetia mentalmente tentando me convencer do quanto eu era idiota. Como eu conseguia ficar tão desconcertada na presença de um desconhecido? Como podia ficar apaixonada por alguém que só me falava o habitual “boa noite”? Como ele viu que um dos discos era do Placebo?

Eu nem sequer sabia o nome dele. Tudo que eu sabia era que ele tinha um piercing na língua, trabalhava como carregador de malas de um hotel de Gramado, gostava de Placebo e era lindo.

O final de janeiro chegou e minha hora de partir também. Coloquei o disco em uma sacola branca e decidi que ia dar de presente o dito cujo para ele quando ele aparecesse para pegar as malas. Afinal, eu ia voltar para a minha rotina, ia olhar as fotos da viagem e, portanto, só ia conseguir imaginar o sorriso dele. Pensei que o presenteando com o disco, ele ouviria e lembraria que ganhou de uma hóspede qualquer. Assim, nutri a idéia de que um dia ele iria lembrar-se de mim.
Ele não apareceu e nunca mais o vi.

Voltei para Recife, ouvi mil vezes todas as músicas do disco até cansar, lembrei mil vezes do sorriso, das mãos no bolso, do elevador e conclui que paixão platônica existe sim, já que, até então eu pensava que isso era coisa de gente que gostava de fantasiar, como uma amiga minha que esteve apaixonada platonicamente por um amigo do irmão dela.
Hoje de manhã, depois de muito tempo, tive vontade de ouvir o disco do começo ao fim e como foi inevitável, lembrei da minha primeira paixão platônica, que infelizmente não lembro mais o rosto.

terça-feira, 16 de março de 2010

procura-se fôlego.

Preciso passar um mês longe dessa cidade. Sem tecnologia. Incomunicável. Preciso passar um mês vivendo novas experiências, convivendo com outras pessoas e longe da mesmice. Desde quando meus amigos tornaram-se tão previsíveis? Eles começam uma frase e já consigo prever o resto dela. E alguns parecem repetições de outros. Se antes não tinham os mesmos hábitos e opiniões, com o tempo passaram a ter. Questiono-me: a convivência muda as pessoas ou elas sempre foram assim e eu que não enxergava? Desde quando as pessoas têm opinião para tudo? Até para as coisas que não sabem e não viveram? Estou consumida de preguiça de ter que argumentar sempre e argumentar a toa, já que estou sempre “equivocada”. Estou cansada de palavras como: ambição, futuro, salário, angústia. Não agüento mais ouvir pessoas que insistem em prever o futuro, ou melhor, planejá-lo. Um dia de cada vez, por favor. Irrealismo me cansa. Acredito que os ambiciosos dominam o mundo, porém até certo limite. E se a vida dessas pessoas não for como tanto planejaram? Vão viver frustradas, semanalmente no psicólogo, o que? Por favor, sem utopia e guardem os sonhos e a previsão do futuro para si. Ninguém é obrigado a ouvir mil vezes e ter que palpitar. Todo mundo já tem os próprios sonhos para colocar em ação.
Preciso de doses cavalares de ânimo, de um tempo de tudo isso, respirar e viver. Preciso parar de me justificar, opinar, vomitar angústias e tentar não surtar todos os dias. Preciso de fôlego.

sexta-feira, 12 de março de 2010

hoje acordei acreditando...

Hoje acordei acreditando que tenho força suficiente para atravessar todos os dias angustiantes, vou ser recompensada no futuro com meu esforço do presente; vou conseguir ler todos os livros, assistir todos os filmes e ouvir todos os discos que quero antes de morrer; a saudade pode ser perversa, mas também recordações bonitas, não vou mais mudar de calçada quando te ver, paixão pode durar mais que amor, é uma dádiva ver o pôr-do-sol todos os dias mesmo que eu esteja encharcada de suor, até as pessoas ruins que passaram pela minha vida deixaram algo de bom, é melhor sentir-se mal que jamais sentir.

Hoje acordei acreditando que é preciso evoluir e dar um passo a frente todos os dias, assim, viver se torna um bônus.

quinta-feira, 11 de março de 2010

reza forte para o pior acontecer.

"preciso de um homem que me ganhe do melhor dos piores que já conheci - ainda sozinho neste meu mundo que dá voltas e voltas e sempre pára no mesmo lugar: ele, único. preciso de um homem que eu julgue superior também a mim mas que discorde disso com a mesma força que eu tenho pra sentir tanto por tanto tempo. preciso de alguém que consiga conversar comigo sem se distrair com meu cheiro ou com as minhas pernas ou comqualquer mundice dessas e que só se importe com a próxima coisa que eu possa falar enquanto eu estiver falando, que entenda isso, que entenda tudo, tudo, tudo. que consiga ler e enlouquecer e que diga aquelas coisas lindas sem mentiras nem alegorias - só um covarde apela assim porque sabe que é fácil ganhar. preciso de um daqueles que não corra para mim e depois corra de mim e que não grude nem se esquive, apenas fique. fique o suficiente para que eu me sinta em casa mas que entenda e conviva com a minha solidão. e que saiba ser homem, simples assim, ser homem. e me deixe ser eu. não espere nada, apenas me deixe ser. existe. eu sei que existe. não adianta ficarem me dizendo que não tem. tem. se existe um pra acabar com a minha vida tem que existir outro para me dar outra vida e arrancar esse piche todo de cima de mim. não é possível. não é possível que vai ser assim para o resto da caralha da minha vida. não é possível que eu vou ter um só fantasma me rondando e me rondando para sempre. não é possível que eu, estúpida, quero o fantasma por perto, chamo, atraio, quero de qualquer jeito que ele escolher estar, desde que esteja e me dê um pouco de alguma coisa, qualquer coisa. deve existir algum antídoto pra amor desfigurado. se alguém descobrir, por favor, me telefone, me escreva, me mande um telegrama, porque eu já não agüento mais viver tentando preencher este vazio com outros vazios que só me pioram. não é possível que a única cura seja adoecer de novo até a exaustão. é possível? não é possível. é sim. porque é assim que tem sido." Clarah Averbuck

terça-feira, 9 de março de 2010

i'm not cruel and you're not evil

Já passava das três da manhã de um sábado, quando você disparou: “eu não entendo os teus sinais.” Minha vontade foi de te sacudir e te explicar que não tem o que entender. Eu ajo assim. Eu sou assim. Não te ignoro porque sinto prazer. Não é fácil ter que conviver com a tua figura todo dia.
Sou geminiana: perco o encanto rápido.
E é exatamente o que tento preservar e não percebes. Não dá pra te deixar fazer parte da minha rotina simplesmente porque só te quero nos fins de semana.
All night long.
Não é tão difícil tomar conta daquilo que não se pode possuir. Ou não quer possuir. Digo e repito: só te quero nos fins de semana. Naquelas noites de sexta-feira cansativas e depois da aula, quando estou com uma dor de cabeça dos infernos e quero teu ombro e nas de sábado, quando as cervejas tentam esconder algumas vezes a carência, confesso que adoro quando você está lá.
Eu queria ter coragem de te dizer que assim podia ter dado certo, sabia? Sem tuas cobranças talvez tivesse sido mais fácil. Talvez sem essas discordâncias entre nós, minha indiferença muitas vezes e tuas cobranças eu tivesse agüentado essa situação por mais tempo. Mas cansei. Cansei de ficar me justificando por besteiras pra você, que me parece tão pouco. Preciso de novas sensações, sabe? Preciso parar de tentar te evitar no meu dia-a-dia e mudar de calçada quando te vejo.
Eu fujo pra não ter que me justificar.
Hoje, enquanto esperava ser atendida na dentista, ouvi uma música de New Order que dizia: “open hearts, empty spaces (...) far and wide, sweet and simple”. Foi aí que a ficha caiu: eu não te quero pra mim. Eu não te quero do jeito que você quer que eu te queira. Eu não te quero na minha rotina, mas, como a própria música diz: “good times around the corner.”