terça-feira, 30 de março de 2010

don't hang around 'cause two is a crowd on my cloud, baby.

- Só quero que você saiba que estou exausto.
- De que?
- De ficar tentando te odiar. Sabe, até hoje não entendo porque você não quis tentar dar certo e me deixou plantado na porta da livraria com um sorvete nas mãos.
- Eu te expliquei um dia no banco da praça, lembra? É muito difícil lidar com você, com o que você provoca em mim, não sei se estou preparada pra perder o controle de vez.
- Por que você tem tanto medo que eu seja maravilhoso pra você?
- Eu sei que você não será maravilhoso. Eu tenho certeza disso, você não vai conseguir. Sei que vai tentar, mas não vai conseguir.
- Você realmente não me quer.
- Não queria te dizer com essas palavras, mas é exatamente isso que venho tentando te mostrar através de ações. Você é tão bom, mas não pra mim.
- Por quê?
- Preciso de mais, entende? Você me perturba de um jeito estranho, provoca sensações confusas dentro de mim, me deixa com a garganta seca ao te ver, mas isso não me basta, entende? Quando você me abraça, sinto que você não me basta.

sábado, 27 de março de 2010

pessoas lá e você cá.


People always leave. Foi exatamente isso que Bianca pensou quando ele saiu por aquela porta depois de dizer que não queria mais ser só dela. A justificativa usada foi que precisava ajeitar a cabeça, começar a realizar projetos e que não queria manter-se preso a uma só pessoa. Bianca sabia que essa não era a verdade. Imediatamente, fechou a porta, foi até a cozinha, abriu a geladeira vermelha que tinha um bilhete dele pendurado dizendo o quanto ela era linda, amassou o bilhete, pegou um vinho e sentou-se no chão gelado. A cada gole, lembrou de uma frase, uma música, uma mania, um vício, um gesto dele. Lembrou do jeito que ele passava as mãos no cabelo e o quanto excitante a cena costumava ser. Lembrou de todas as vezes que conseguia surpreendê-lo com um jantar, um livro ou um vinil quando ele chegava cansado do trabalho. E ela acreditava ser realmente boa nisso: surpreedê-lo. Lembrou de quando colocava uma camiseta cinza surrada do Dinosaur Jr que ele trouxe de presente quando visitou Milão, lia poesias de Fernando Pessoa enquanto ele ficava sentado imóvel na cadeira amarela com a xícara de café entre as mãos, ouvindo palavra por palavra e o olhar de ternura dele quando isso acontecia. E esse olhar sempre era lançado. Bianca pensou que não, não era possível que ele tivesse se cansado dela, assim, sem mais nem menos, tão rápido. Bianca não conseguia se conformar com a ideia de que as pessoas sempre arranjam uma maneira de ir embora, bater a porta da vida na cara de outra e dizer “tchau” em vez de “até breve”. Ela se questionava se tudo que eles haviam compartilhado e vivido não passou de uma mentira, passatempo, diversão temporária (pra ele). Foi mentira quando ele disse que foi abastecer o carro, viu o chocolate preferido dela, comprou três caixas, deu-lhe um beijo e disse que ela conseguia ser mais doce que todas as caixas juntas? Foi mentira quando ele ligou às cinco horas da manhã pedindo para encontrá-la e abraçá-la, pois tinha tido o pior pesadelo de todos os tempos? Foi mentira quando, em um show da banda dele, ele dedicou uma música a ela? E todas as músicas compartilhadas, todas as poesias que falavam de amor, todos os filmes que ela assistiu segurando o braço dele, e as ligações de madrugada, as mensagens românticas no celular, as caixas de chocolate, tudo mentira?
Bianca não conseguia entender como as pessoas conseguiam ser solitárias e felizes ao mesmo tempo. Como as pessoas conseguiam a proeza de estudar, trabalhar, cuidar da casa, ir à feira com o coração partido e fingir que não foram deixadas para trás. Todo mundo já foi deixado, já viu alguém querido partir e se não viu, é questão de tempo, pensou. Só ela tinha vontade de ficar trancada no quarto ao som de Frank Sinatra tentando entender o ponto que errou? Ou as pessoas que estudam, trabalham, cuidam da casa, vão à feira com o coração partido já passaram por tanta confusão mental que aprenderam a viver com a ferida mal cicatrizada?
Ela lembrou que não foi a primeira vez que foi deixada. Aquela amiga desde os doze anos mudou pro interior, o amigo que ouvia todas as dores e alegrias mudou de país, o avô de quem ela tinha lindas memórias da infância não estava mais aqui. Consegui sobreviver com a saída dessas pessoas da minha vida, por que não posso suportar o fato dele ter ido embora? Falou em voz alta. Afinal, ele ia continuar sendo o cara que ela namorou por dois anos para quem lia poesias, assistia filmes com os braços entrelaçados, tinha o nariz mais lindo que ela já viu e grudava bilhetes na porta da geladeira. E que a deixou com o coração partido, estraçalhado, diminuído, saltando pela boca.
Escreveu em um papel uma frase de Caio Fernando Abreu que gostava tanto: “meu coração está ferido de amar errado”. Grudou na porta da geladeira para que fosse obrigada a ler todas as vezes que passasse pela cozinha até se convencer de que a frase fazia sentido e que, people always leave, quer ela queira ou não. Afinal, ninguém morre de amor.

quarta-feira, 24 de março de 2010

quando “não me importo” está na mesma frase que “foda-se”.

Combinei de fazer um trabalho em dupla, passei boa parte da madrugada terminando minha parte, cheguei à faculdade e minha dupla afirma que não fez nada porque optou por dormir. Decidi colocar apenas meu nome e expliquei que fiz o trabalho sozinha, portanto o esforço foi apenas meu e não tem justificativa colocar o nome da outra componente aí é quando escuto que essa atitude é de gente injusta e “sacana”. Não discuti, dei de ombros e falei baixinho: “foda-se, não me importa o que você acha de mim.”

Em um sábado, desses que a gente sai apenas com o intuito de beber uma cerveja sem esperar muita coisa da noite, encontrei um amigo do meu ex-namorado na porta do banheiro do bar. Cumprimentos a parte, o muy amigo me informa que o meu ex está “solteirão”. Dei um sorriso amarelo e engoli seco - por pouco não perguntei o que o levou a achar que isso fosse me interessar. Voltei pra mesa, dei um gole na cerveja e pensei: “foda-se o estado civil dele porque não me importa.”

Essas e outras situações, que passamos no dia-a-dia, são como testes. Quando percebemos que não nos importamos, ficamos surpresos e pensamos o quanto é engraçado causar indiferença situações que, supostamente, deveriam nos incomodar.
Quando eu estava voltando para casa cansada em uma tarde chuvosa, o pensamento que martelava era: “será que realmente as coisas estão tão bem resolvidas assim dentro de mim?”.


Após alguns minutos, cheguei à conclusão que, foda-se, esse questionamento não faz diferença porque nada disso parece me importar.

domingo, 21 de março de 2010

minha paixão platônica e o mais ridículo que isso possa soar.

O ano era 2004 e o local era Gramado, no Rio Grande do Sul. Como era vinte e três de dezembro, a cidade toda estava com decoração natalina, nas ruas havia grandes caixas de som com um grande laço vermelho onde tocavam músicas bonitinhas e ás vezes até ópera; as pessoas davam a impressão de que haviam sido picadas pelo mosquito do consumismo, pois seguravam mais sacolas do que conseguiam. O hotel era marrom, ficava em um grande descampado verde e de frente para a Aldeia do Papai Noel. No dia seguinte a minha chegada, o céu já estava escurecendo quando voltei ao hotel e encontrei um carregador de malas na porta. Ele não era muito alto, mas também não era muito baixo, tinha cabelos pretos um pouco arrepiados e estava parado com as mãos no bolso. Ele sorriu e disse: feliz natal. Ele tinha uma voz grave tão bonita e um jeito de ficar parado com as mãos no bolso que despertou minha atenção.
Janeiro chegou com 2005, e uma das melhores partes da viagem era voltar ao hotel e ouvir do carregador de malas: “boa tarde” ou “boa noite”. E foi aí que ele tornou-se minha primeira paixão platônica.
Certo dia chuvoso que media treze graus, avistei uma loja de discos e vinis que tinha na vitrine um violoncelo enorme e imediatamente entrei. Após dissecar toda a loja, comprei alguns discos e voltei caminhando para o hotel com o vento gelado batendo no rosto. Alguns dias depois, fui tomar o café da manhã sozinha já que sempre sou a última a acordar e me deparei com o carregador de malas no elevador. Fiquei envergonha de olhá-lo no rosto e por isso, fixei nas mãos dele. Sem mais nem menos, ouço: “não conheço mais ninguém que goste de Placebo fora você, eu e meu irmão.” Fiquei em êxtase, sem saber o que responder e provavelmente fiquei vermelha. Não lembro o que respondi e o que conversamos logo depois, mas lembro que vi um piercing na língua e fiquei desejando segundo por segundo que o elevador fosse o mais devagar possível.
No café da manhã, tentei organizar minha cabeça e repetia mentalmente tentando me convencer do quanto eu era idiota. Como eu conseguia ficar tão desconcertada na presença de um desconhecido? Como podia ficar apaixonada por alguém que só me falava o habitual “boa noite”? Como ele viu que um dos discos era do Placebo?

Eu nem sequer sabia o nome dele. Tudo que eu sabia era que ele tinha um piercing na língua, trabalhava como carregador de malas de um hotel de Gramado, gostava de Placebo e era lindo.

O final de janeiro chegou e minha hora de partir também. Coloquei o disco em uma sacola branca e decidi que ia dar de presente o dito cujo para ele quando ele aparecesse para pegar as malas. Afinal, eu ia voltar para a minha rotina, ia olhar as fotos da viagem e, portanto, só ia conseguir imaginar o sorriso dele. Pensei que o presenteando com o disco, ele ouviria e lembraria que ganhou de uma hóspede qualquer. Assim, nutri a idéia de que um dia ele iria lembrar-se de mim.
Ele não apareceu e nunca mais o vi.

Voltei para Recife, ouvi mil vezes todas as músicas do disco até cansar, lembrei mil vezes do sorriso, das mãos no bolso, do elevador e conclui que paixão platônica existe sim, já que, até então eu pensava que isso era coisa de gente que gostava de fantasiar, como uma amiga minha que esteve apaixonada platonicamente por um amigo do irmão dela.
Hoje de manhã, depois de muito tempo, tive vontade de ouvir o disco do começo ao fim e como foi inevitável, lembrei da minha primeira paixão platônica, que infelizmente não lembro mais o rosto.

terça-feira, 16 de março de 2010

procura-se fôlego.

Preciso passar um mês longe dessa cidade. Sem tecnologia. Incomunicável. Preciso passar um mês vivendo novas experiências, convivendo com outras pessoas e longe da mesmice. Desde quando meus amigos tornaram-se tão previsíveis? Eles começam uma frase e já consigo prever o resto dela. E alguns parecem repetições de outros. Se antes não tinham os mesmos hábitos e opiniões, com o tempo passaram a ter. Questiono-me: a convivência muda as pessoas ou elas sempre foram assim e eu que não enxergava? Desde quando as pessoas têm opinião para tudo? Até para as coisas que não sabem e não viveram? Estou consumida de preguiça de ter que argumentar sempre e argumentar a toa, já que estou sempre “equivocada”. Estou cansada de palavras como: ambição, futuro, salário, angústia. Não agüento mais ouvir pessoas que insistem em prever o futuro, ou melhor, planejá-lo. Um dia de cada vez, por favor. Irrealismo me cansa. Acredito que os ambiciosos dominam o mundo, porém até certo limite. E se a vida dessas pessoas não for como tanto planejaram? Vão viver frustradas, semanalmente no psicólogo, o que? Por favor, sem utopia e guardem os sonhos e a previsão do futuro para si. Ninguém é obrigado a ouvir mil vezes e ter que palpitar. Todo mundo já tem os próprios sonhos para colocar em ação.
Preciso de doses cavalares de ânimo, de um tempo de tudo isso, respirar e viver. Preciso parar de me justificar, opinar, vomitar angústias e tentar não surtar todos os dias. Preciso de fôlego.

sexta-feira, 12 de março de 2010

hoje acordei acreditando...

Hoje acordei acreditando que tenho força suficiente para atravessar todos os dias angustiantes, vou ser recompensada no futuro com meu esforço do presente; vou conseguir ler todos os livros, assistir todos os filmes e ouvir todos os discos que quero antes de morrer; a saudade pode ser perversa, mas também recordações bonitas, não vou mais mudar de calçada quando te ver, paixão pode durar mais que amor, é uma dádiva ver o pôr-do-sol todos os dias mesmo que eu esteja encharcada de suor, até as pessoas ruins que passaram pela minha vida deixaram algo de bom, é melhor sentir-se mal que jamais sentir.

Hoje acordei acreditando que é preciso evoluir e dar um passo a frente todos os dias, assim, viver se torna um bônus.

quinta-feira, 11 de março de 2010

reza forte para o pior acontecer.

"preciso de um homem que me ganhe do melhor dos piores que já conheci - ainda sozinho neste meu mundo que dá voltas e voltas e sempre pára no mesmo lugar: ele, único. preciso de um homem que eu julgue superior também a mim mas que discorde disso com a mesma força que eu tenho pra sentir tanto por tanto tempo. preciso de alguém que consiga conversar comigo sem se distrair com meu cheiro ou com as minhas pernas ou comqualquer mundice dessas e que só se importe com a próxima coisa que eu possa falar enquanto eu estiver falando, que entenda isso, que entenda tudo, tudo, tudo. que consiga ler e enlouquecer e que diga aquelas coisas lindas sem mentiras nem alegorias - só um covarde apela assim porque sabe que é fácil ganhar. preciso de um daqueles que não corra para mim e depois corra de mim e que não grude nem se esquive, apenas fique. fique o suficiente para que eu me sinta em casa mas que entenda e conviva com a minha solidão. e que saiba ser homem, simples assim, ser homem. e me deixe ser eu. não espere nada, apenas me deixe ser. existe. eu sei que existe. não adianta ficarem me dizendo que não tem. tem. se existe um pra acabar com a minha vida tem que existir outro para me dar outra vida e arrancar esse piche todo de cima de mim. não é possível. não é possível que vai ser assim para o resto da caralha da minha vida. não é possível que eu vou ter um só fantasma me rondando e me rondando para sempre. não é possível que eu, estúpida, quero o fantasma por perto, chamo, atraio, quero de qualquer jeito que ele escolher estar, desde que esteja e me dê um pouco de alguma coisa, qualquer coisa. deve existir algum antídoto pra amor desfigurado. se alguém descobrir, por favor, me telefone, me escreva, me mande um telegrama, porque eu já não agüento mais viver tentando preencher este vazio com outros vazios que só me pioram. não é possível que a única cura seja adoecer de novo até a exaustão. é possível? não é possível. é sim. porque é assim que tem sido." Clarah Averbuck

terça-feira, 9 de março de 2010

i'm not cruel and you're not evil

Já passava das três da manhã de um sábado, quando você disparou: “eu não entendo os teus sinais.” Minha vontade foi de te sacudir e te explicar que não tem o que entender. Eu ajo assim. Eu sou assim. Não te ignoro porque sinto prazer. Não é fácil ter que conviver com a tua figura todo dia.
Sou geminiana: perco o encanto rápido.
E é exatamente o que tento preservar e não percebes. Não dá pra te deixar fazer parte da minha rotina simplesmente porque só te quero nos fins de semana.
All night long.
Não é tão difícil tomar conta daquilo que não se pode possuir. Ou não quer possuir. Digo e repito: só te quero nos fins de semana. Naquelas noites de sexta-feira cansativas e depois da aula, quando estou com uma dor de cabeça dos infernos e quero teu ombro e nas de sábado, quando as cervejas tentam esconder algumas vezes a carência, confesso que adoro quando você está lá.
Eu queria ter coragem de te dizer que assim podia ter dado certo, sabia? Sem tuas cobranças talvez tivesse sido mais fácil. Talvez sem essas discordâncias entre nós, minha indiferença muitas vezes e tuas cobranças eu tivesse agüentado essa situação por mais tempo. Mas cansei. Cansei de ficar me justificando por besteiras pra você, que me parece tão pouco. Preciso de novas sensações, sabe? Preciso parar de tentar te evitar no meu dia-a-dia e mudar de calçada quando te vejo.
Eu fujo pra não ter que me justificar.
Hoje, enquanto esperava ser atendida na dentista, ouvi uma música de New Order que dizia: “open hearts, empty spaces (...) far and wide, sweet and simple”. Foi aí que a ficha caiu: eu não te quero pra mim. Eu não te quero do jeito que você quer que eu te queira. Eu não te quero na minha rotina, mas, como a própria música diz: “good times around the corner.”