quarta-feira, 26 de agosto de 2015

(des)estabilidade


e aí que vários anos podem se passar sem a gente se dar conta dos pedacinhos interiores que precisam ser colados. podemos mudar de país, nos envolvermos com outras pessoas, parar de ter contato. e aí que começamos a ter responsabilidades, cabelos brancos e carteira assinada, mas tem algo que não muda nem com o relógio biológico correndo: sentimento. pelo contrário, tem sentimento que ganha vida e sai rasgando a nossa pele quando menos esperamos. 

e aí que a gente tem uma interrogação no estômago e aposta nossas fichas para ela se transformar em exclamação. e aí que no meio do caminho ela vira vírgula, continuação. e o que se tem a fazer é deixá-la indefinida guardada numa gaveta bem escondida até ela se tornar parênteses ou ponto final.

e aí que, como boa geminiana, não sei se quero que nossa história vire parênteses ou ponto final. quando penso na tua mão fria pegando na minha, quero reticências. quando penso na tua barba encostando no meu pescoço, quero parênteses. quando penso em tu sendo estúpido comigo, quero ponto final. mas é só recordar os dias que a gente dividiu o teu sofá e o quanto foi bom que tiro a ideia de parênteses, reticências, vírgulas, ponto final e a porra toda da cabeça. 

confesso que demorei a admitir, mas toda essa confusão mental nada mais é que falta de confiança. minha. e vulnerabilidade. sou assim mesmo: tento parecer uma rocha, mas por dentro tenho uma cachoeira seguindo o fluxo. e tu que me deixa assim. errada. mais tímida do que já sou. desconfortável. me deixa doída. às vezes me deixa muito doída, na verdade. 

mas aí eu penso naquele sábado que te vi tentando tocar bob dylan para mim com os óculos sujos de dedos e a taquicardia surge. (re)lembro da gente num certo show ouvindo uma das minhas músicas preferidas ao vivo e o quão foi bonito tu sorrindo pra mim e me arrepio. recordo da sexta-feira que tu apareceu de surpresa, pegou no meu cabelo e disse: "saudade". sei lá. algo embola lá no fundo. algo ganha vida. algo me desestabiliza. que nem te disse certo dia: tu me desestabiliza. quando te vejo, quando sinto tua mão encostada na minha, quando a gente brinda, quando teu nome salta na tela do meu celular, quando alguém cita teu nome. tu me desestabiliza.

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