terça-feira, 8 de junho de 2010

gelado dentro, gelado na xícara


Pode deixar, vou assumir todos os seus erros, responder por eles, levar toda culpa. Porque no fundo não importa, não faz diferença. Nada está fazendo diferença pra mim. Eu não ligo pra nada, pra ninguém, nem pra mim. Não ligo nem para os meus sentimentos, eles que se sufoquem. Não ligo mais para as injustiças presentes debaixo da minha janela nem para o assalto ocorrido na esquina imunda, se o que estão falando de mim é bom ou ruim ou me criticam na minha cara. Não ligo pra o que meus pais falam, se como muito e durmo pouco e se as minhas olheiras me deixam com uma aparência escrota, se minha pele está ou não oleosa e as espinhas estão nascendo com freqüência e nem para o esmalte vermelho descascado. Não ligo para as notícias de guerra, fome ou pobreza nos noticiários, se o Bob Dylan vai lançar outro livro ou não; se faz chuva, sol, frio ou calor; não ligo que minhas pernas estejam com marcas roxas das batidas que dei de madrugada e nem de estar em uma festa com milhares de pessoas a minha volta e ficar afastada delas, sozinha sentada em uma cadeira com um copo de vodca com morango na mão ou em pé, forçando que meu corpo se sintonize a música. Sinceramente, nunca liguei. Não ligo se alguém fala que vai me ligar e não liga e nem de estar um pouco calada ultimamente, não ligo para sensações, para mentiras, para verdades, para a cor do céu, para o menino que faz acrobacias com fogo no sinal, nem de escrever usando metáforas. Está tão sério que nem ligo se o café está gelado, amargo ou sem açúcar.

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